Do norte da África
aos EUA, passando por toda a Europa, o mundo vem conhecendo nos últimos 15
meses mobilizações de massas sem precedentes. Desde a derrubada dos ditadores
na Tunísia e no Egito, que levou ao incêndio social em todos os países árabes,
até a ocupação da Assembleia Legislativa de Wisconsin nos EUA e o movimento Ocuppy Wall Street que se espalhou por
todo o território da nação mais rica do mundo, passando pelas dezenas de greves
gerais de 24 ou 48 horas na Grécia e outras na França e Itália, além das
manifestações gigantescas na Espanha, Inglaterra, Portugal, etc. (e agora a
maior greve geral da história da Índia), uma clara mensagem vem sendo
construída pelos povos: Não aceitamos mais que a maioria da riqueza produzida
por nós fique nas mãos de uma minoria.
Historicamente a
juventude tem demonstrado ser uma espécie de termômetro da luta de classes,
expressando sua insatisfação, mesmo que de maneira confusa e desorganizada,
antes dos batalhões da classe trabalhadora, capazes de fato de mudar a ordem
das coisas. E isso se faz mais verdadeiro nas últimas décadas em que, na
maioria dos países, a classe trabalhadora tem sido controlada por dirigentes
conciliadores e reformistas, que ainda gozam de muita confiança entre os
trabalhadores. Mas isso também não pode durar pra sempre. A classe trabalhadora
mundial carece de uma direção revolucionária. É só isso o que falta para pôr
fim ao sistema que afoga em guerras, miséria e sofrimento bilhões de seres
humanos em todo o planeta.
Mesmo assim, os povos
seguem seu movimento. Elegem aqui e acolá governos “de esquerda” nos quais
depositam suas fichas e fazem suas experiências. Na América Latina e na Europa
(e mesmo nos EUA com as ilusões em Obama) isso ficou bastante evidente. Mas o
movimento das massas nos últimos meses mostra que a maré está mudando. Os
estudantes no Chile dão mais um exemplo disso.
Na USP, o que está
acontecendo é justamente a expressão deste fenômeno global, só que adaptado às
circunstâncias específicas da comunidade universitária. O processo de
privatização e a conseqüente militarização da USP são expressão do movimento
mais geral do Capital Financeiro Internacional que precisa destruir forças
produtivas, aumentar a exploração do trabalho em escala mundial e reprimir ao
máximo os movimentos de resistência dos povos para poder superar a crise
econômica atual e experimentar novo ciclo de crescimento capitalista – somente
para depois afundar em nova crise.
É preciso que o
movimento estudantil da USP tenha claro quais forças se movem por trás dos
acontecimentos recentes. Helicópteros e forças táticas especiais não são usados
para prender meia dúzia de usuários de maconha ou mesmo para efetuar
reintegração de posse de um prédio público ocupado por algumas dezenas de
estudantes – muito menos para fazer a segurança de um campus universitário. O
que está em questão é quem manda na universidade: o público ou o privado.
Rodas - o reitor
derrotado nas eleições e mesmo assim empossado pelo governador - e as tropas
militares sob seu comando representam claramente os interesses privados dentro
da universidade e querem estabelecer sua hegemonia à força. Além das fundações
privadas e terceirizações, há uma tendência a privatizar tudo. Catracas no
bandejão, Bilhete Único para usar o Circular (BUSP), PROADE e etc. dão uma
amostra de até onde isso pode chegar.
O movimento
estudantil e o movimento sindical dos funcionários e professores devem se
constituir na ponta de lança dos interesses públicos no interior da
universidade. Nesse sentido é preciso que o movimento avance e supere a noção
de público como aquilo que é de propriedade coletiva, mas controlado por cargos
estatais que nada mais são do que agentes do capital privado travestidos de
funcionários públicos – afinal o que é o Rodas?
É preciso avançar
para o conceito de “Universidade Pública sob o controle dos professores,
funcionários e estudantes”. Para tal urge uma Assembléia Estatuinte Soberana
construída de tal forma a fazer o mais amplo debate em toda a universidade.
Entretanto, para isso a tarefa imediata é expulsar a PM do Campus. Não é possível
realizar uma estatuinte democrática numa universidade ocupada militarmente,
onde a polícia a mando do reitor age como repressor social e ideológico.
Mas a revogação do
convênio firmado pelo reitor com a PM e a retirada definitiva das tropas só
será alcançada com uma forte greve conjunta de estudantes, funcionários e
professores. Motivos para a greve sobram. A desocupação da moradia retomada no
domingo de carnaval com a prisão infundada de 12 estudantes foi só uma amostra
do que será capaz a PM de Rodas em 2012. A postura da Adusp até agora é
inaceitável. Nenhum professor da USP que defenda os preceitos básicos da
democracia deveria aceitar ministrar uma aula sequer enquanto o campus estiver
sob o controle da PM! A Adusp deveria assumir seu papel de entidade de classe e
conclamar todos os professores à greve imediata por tempo indeterminado.
Enquanto isso não ocorre, nós, estudantes, devemos nos dirigir – através das
assembleias de curso e geral – aos professores e à Adusp propondo a greve
insistentemente.
O problema é que, na
prática, nem os estudantes mais estão em greve. Nós explicamos no final do ano
passado que as atitudes das forças organizadas (PSOL, PSTU, LER, MNN) que
dirigem o DCE e o Comando de Greve levariam o movimento a um refluxo, a menos
que parassem a guerra de torcidas e começassem a agir em frente única. Isso
somado ao intervalo das férias e a entrada dos calouros que ainda estão
assimilando a realidade interna da USP fatalmente enfraqueceu a greve. A
assembléia do dia 8 de março deve constatar que não há mais greve de fato e
adotar medidas para construir uma nova greve. Isso passa por revogar o mandato
do atual Comando de Greve e eleger uma Comissão Pró-Greve que inclua aí
estudantes primeiro-anistas também. Ganhar a maioria dos calouros para a causa
estudantil é a prioridade no momento.
Por
uma Greve Geral de Estudantes, Funcionários e Professores para exigir:
·
Fora PM do
Campus!
·
Pela
imediata revogação do convênio entre PM e Reitoria da USP!
·
Nenhuma
punição aos estudantes! Fim da perseguição política!
·
Pelo
direito dos estudantes à moradia universitária!
·
Pela
discussão e implementação de um modelo alternativo de segurança no campus!
·
Fora
Rodas!
·
Por uma
Assembleia Estatuinte Democrática e Soberana!
Célula da Esquerda Marxista da USP
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