10/05/2012
A Grécia foi o berço da democracia, o local aonde as
decisões eram tomada pelo voto do povo em praça pública.
Hoje, na Grécia, a simples proposta de “consultar o povo”
sobre o acordo com a Troika (União Europeia (UE), Banco Central Europeu
(BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) derrubou o governo e em seu
lugar o capital financeiro internacional nomeou um “governo técnico” com gente
do Banco Mundial e FMI. Agora, nas eleições de 6/5/2012, os partidos
que defenderam e aplicaram os acordos antipovo na Grécia não chegaram a 40% dos
votos. Mas, no parlamento de 300 assentos (uma pesada ironia sobre os 300 de
Esparta), eles ficaram com 148 votos. Como? Por causa de uma regra que dá ao
partido mais votado um “bônus” de 50 parlamentares. E o partido que fez 19,8%
dos votos (Nova Democracia) salta de 58 cadeiras para 108 cadeiras.
Uma importante lição política se pode apreender desta
situação. Ela ressalta em primeiro lugar que o sectarismo é a outra face do
oportunismo. E neste caso se expressa na política verdadeiramente criminosa do
KKE, o Partido Comunista Grego, que se recusou a fazer uma aliança eleitoral
com ao frente de esquerda Syriza (cujo principal partido é Synaspismo, uma
cisão do KKE, e onde militam os marxistas da CMI na Grécia). Syriza
propõe recusar o pacote de arrocho imposto pela Troika, a ruptura com o euro e
não pagar a Dívida Externa, entre outras propostas. Mas, o PC não se aliou com
Syriza porque “nós, o KKE somos a única força revolucionária na Grécia”.
A Syriza fez 16,8 % dos votos passando a ser o principal
partido de esquerda grega. Apenas 3% atrás do primeiro colocado, o maior
burguês Nova Democracia, que por isso levou o “bônus” de 50 deputados a mais.
O KKE tem uma posição divisionistas e sectária igual a
do PC alemão em 1931 a 33 que dividiu a classe operária alemã e permitiu a
ascensão e tomada do poder pelos nazistas. Naquela época, seu principal
dirigente, Thaelmann, dizia que “a chegada de Hitler ao poder é apenas a
primeira etapa da situação que será a tomada do poder pelo Partido
Comunista”. Ele dizia “Após Hiltler, o PC Alemão”. Todos sabem o que aconteceu.
A Secretária Geral do PC Grego, Aleka Papariga,
declarou antes das eleições, que seu objetivo era que saísse das eleições uma
maioria burguesa débil, que fizesse um governo débil, porque o próximo passo
depois disso seria o PC o partido majoritário e um governo comunista. Assim
como seu irmão sectário Thaelmann ela estava errada em todos os
aspectos. No dia das eleições Aleka Papariga declarou que o PC foi "a
única força política que teve um aumento significativo nas eleições nos âmbitos
local e regional". Espantoso quando se sabe que o PC cresceu só
1% sendo que Syriza passou de 4,6% para 16,8%.
O PC grego ao recusar a aliança com Syriza garante que a
direita governe pagando a Dívida e massacrando o povo grego, assim como é o
fator que impede a constituição de um governo de ruptura com o euro e não
pagamento da Dívida.
A grande imprensa internacional se contorce com o impasse
político e econômico na Grécia e exige que algo seja feito. Uma pequena fração
da burguesia e pequena burguesia grega se inclina por uma saída fascista (o
grupo nazista Amanhecer Dourado fez 7% dos votos), mas essa saída não pode ser
apoiada, neste momento, pela grande burguesia que teme a resposta do
proletariado. Após a catástrofe da colaboração de classes do PASOK agora vemos
o espetáculo trágico do sectarismo ultra-esquerdista. Quanta coisa semelhante
entre Brasil e Grécia.
O pano de fundo é a crise que continua
Em todo o mundo a crise continua com força renovada e os
truques políticos e econômicos começam a ratear. A Espanha acaba de estatizar o
3º maior banco do país e nos EUA, Obama, para não ter que falar de economia,
acaba de declarar apoio ao casamento gay. Este é o debate entre os dois
pretendentes ao trono da nação mais poderosa do planeta quando os empregos não
vêm, os trabalhadores continuam descendo e os de cima subindo.
As bolsas caíram no mundo inteiro e com alguma sorte e
muitos truques depois voltarão a subir e continuarão a acumular riquezas nas
mãos de poucos e espalhar sofrimento e morte pelo mundo. O capitalismo não
acaba sozinho. Ele precisa de um coveiro.
No Brasil, o dólar subiu e Dilma, os ministros,
governadores, economistas e analistas todos dão graças a algo que não
entenderam. Afinal, mais que qualquer medida que o governo tenha tomado é a
retomada da crise que força o dólar pra cima no mundo inteiro. Na tempestade, o
porto mais seguro para os capitalistas ainda é os EUA. E Brasil faz parte deste
sistema global.
Perdidos na Crise
De fato, a burguesia internacional está confusa e tão
perdida como os que no Brasil tentam substituir a discussão sobre o início da
crise no Brasil por um espetáculo com a CPI Carlinhos Cachoeira. CPI que uns
tentam sepultar para esconder o que pode vir à tona enquanto outros são
entusiastas da CPI para tentar se defender das acusações do dito “mensalão”.
Num espetáculo político digno da burguesia brasileira e seus
agentes no movimento operário se vê o ex-delegado Protógenes, agora deputado
federal do PCdoB, supostamente comunista, salvando a honra de Collor de Mello (“Presidente,
não foi só Vossa Excelência que foi injustiçado. Eu também fui"). O
Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, acobertando o senador
Demóstenes Torres (DEM), avatar de Carlinhos Cachoeira no Senado, enquanto
prossegue sua cruzada de criminalização do PT através do processo do mensalão.
Deputados aprovam salário de R$32.147,90 para os ministros
do Supremo Tribunal Federal e para o Procurador Geral da República, que provoca
um efeito cascata no Judiciário e na Procuradoria. Tudo retroativo a 1º de
janeiro. "Tem orçamento previsto para isso", disse o vice-líder
do governo, deputado Luciano Castro. E ao mesmo tempo o salário dos professores
universitários e servidores federais estão congelados. Dilma tem nas
mãos para aprovar ou vetar o novo Código Florestal do agronegócio que passa a
ter a oportunidade de queimar e devastar o campo a vontade, sem lei e sem
controle.
A grande coligação da direção do PT, afinal, serve muito bem
para derrubar direitos previdenciários, para desonerar a folha de pagamentos e
onerar o trabalhador, mas não serve para recusar um projeto criminoso como este
Código Florestal do agronegócio. E o mesmo Congresso adia pelo quarto ano
seguido a proposta de desapropriação das terras onde for encontrado trabalho
escravo.
A solução da crise dos de cima está na mão dos debaixo
Dilma traça o seu caminho, com Collor, Sarney e tantos
outros. Os trabalhadores farão sua experiência. Nós, marxistas, traçamos o
nosso ao lado daqueles que sofrem mas não se rendem, exigindo que o PT rompa
com esta coligação e volte a trilhar o caminho da classe trabalhadora, reate
com a luta pelo socialismo. O destino do Partido Socialista grego, o PASOK, que
desaba da posição de majoritário para 13,2% dos votos deve servir de alerta a
todos os que continuam a privilegiar a aliança burguesa e a salvação dos
capitalistas, como fez o PASOK. A crise continua e fará muitas vítimas, mas a
classe trabalhadora aprenderá na situação caótica que se cria e forçará
passagem.
Hoje, a burguesia grega muito provavelmente terá que
convocar novas eleições, pois o partido que chegou em primeiro lugar não
consegue constituir uma coligação de maioria para formar um novo governo. Se os
apelos de unidade de Syriza ecoarem no KKE e a unidade se realizar com base na
ruptura com o euro e não pagamento da Dívida, a direita pode ser derrotada e
abre o caminho para um governo da classe trabalhadora. Isto sim seria fazer
valer a democracia hoje pisoteada na Grécia.
No Brasil, o PT pode seguir o caminho do PASOK a medida que
a crise se aproxima e sofrer as consequências das medidas que está apoiando. Ou
escolher o caminho da ruptura com a colaboração de classes com o capital,
reatando com o socialismo e sendo fiel às suas origens.
De qual quer modo não se pode ter esperanças na orientação
da maioria da direção do PT. A solução só virá da luta dos trabalhadores e da
juventude. Da organização e mobilização em defesa de suas reivindicações,
direitos e conquistas é que o nível político crescerá entra a vanguarda e as
massas e a questão de outro caminho, a luta pelo socialismo, vai se colocar nas
ruas, fábricas, locais de trabalho e escolas. A Esquerda Marxista está aí
ocupando seu lugar nas batalhas da classe e contra estas alianças que só podem
provocar desgraças.
Comissão Executiva da Esquerda Marxista
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