Eu nasci em 1957. E agora, depois de
muito tempo em que isto tinha desaparecido das plagas tupiniquins, eis que
ressurge com força total o lema “porque me ufano do meu país”. Zé Dirceu, numa
série de artigos sobre economia, faz exatamente isso. Mas, apesar do orgulho do
Zé e de muitos brasileiros, temos sérias razões para compartilhar de algumas de
suas inquietações e, mais que isso, discordar de suas proposições.
Mais uma pesquisa fala do Brasil
otimista
Europa faz de conta que não é com ela
Juros bancários emperram crescimento
O bom conselho de um prêmio Nobel
No artigo sobre a Europa, Zé Dirceu se
inquieta que o Banco Central Europeu já despejou no mercado mais de 2,7 bilhões
de euros e o Banco Central dos EUA (FED), despejou 2,9 bilhões de dólares. Em
outras palavras, “imprimiram” dinheiro eletrônico, desvalorizando sua moeda
(inflacionando). Isto tem consequências para países como o Brasil, que tem a
sua moeda desvalorizada e perde exportações.
Lembremos que esta política não é
nova: na década de 1930, para sair da crise, todo país fez o mesmo, quando
pode. Quando não podia, adotava outras estratégias, todas elas com o mesmo
nome: guerra comercial, procurando exportar o máximo e importar o mínimo. Por
quê? Isso Zé Dirceu não fala, porque parece que já esqueceu o que leu há muito
tempo atrás – estamos em uma crise de superprodução e o que o mercado
capitalista produz ele não consegue consumir (em termos capitalistas).
Dai que as outras propostas do Zé de
baixar os juros bancários e diversificar a produção, dificilmente trarão algum
resultado. Conseguir fábricas com empregos de qualidade, relegando os “empregos
mal pagos” para Vietnam, China e outros? Fazer esta proposta é querer
desconhecer a realidade do mercado, querer desconhecer que quem manda no mundo
é o capitalismo e quem decide onde e quem produz são as grandes empresas, hoje
chamadas de multinacionais.
Foram elas, as grandes empresas com
sedes nos grandes países capitalistas, nos países imperialistas, que decidiram
fazer da China o que ela é hoje, a partir da destruição da propriedade estatal
existente. A partir das antigas “Zonas de Exportação” construídas com o acordo
da burocracia estatal do PC chinês, que busca se converter em nova burguesia,
elas se espalharam pelos pais. Os gigantes de hoje, como a Foxcom, só existem
para a produção das grandes empresas como a Apple.
No Brasil não é diferente. As grandes
empresas brasileiras (exceção da Petrobras) são dominadas pelo capital
estrangeiro. No próprio nome já se vê: Ford, Fiat, Wolks, etc. A Vale, depois
de privatizada, pouco a pouco vai sendo dominada pelo capital dos grandes
bancos. A Brahma e a Antártica, unidas, foram compradas por uma cia Belga, Interbrew.
Estas companhias não trabalham para a
nação brasileira, para um “Brasil maior”, para um “Brasil potência” ou coisa
que o valha. O que elas querem é só uma coisa: lucro. E isto, cedo ou tarde, em
um mundo que está em crise, vai trazer a crise também ao Brasil.
Existe solução? Sim, existe. Mas a
solução não é deixar os pobres asiáticos se matarem nos “empregos de baixo
valor agregado”. A solução é dura e difícil, e passa pelo combate pelo
socialismo, no Brasil, na Europa e na Ásia.
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