Aos estudantes da USP reunidos em assembleia nesta quarta
Enquanto escrevíamos este panfleto
tínhamos um prognóstico: a assembleia de hoje (30/11) na ECA vai ser menor do
que as anteriores desde a assembleia na FFLCH (08/11) que decretou corretamente
a greve estudantil imediata. Gostaríamos de estar enganados.
Já vimos na última assembleia geral
(Poli 23/11) uma redução considerável do número de estudantes presentes. E já
explicamos em outros panfletos: “Há um grande contingente de estudantes que não
entra em greve por estar ameaçado pelo calendário de provas de fim de ano. Se
os professores entrassem em greve ou ao menos flexibilizassem o calendário de
provas e trabalhos, a greve certamente daria um salto”.
E propusemos: “O Comando de Greve
deve receber mandato da Assembleia Geral dos Estudantes para se dirigir à Adusp
e ao conjunto dos professores com a consigna: Nenhum professor da USP que
defenda os preceitos básicos da democracia deve aceitar ministrar uma aula
sequer enquanto o campus estiver sob o controle da PM – que nada mais é do que
um bando de homens armados sob as ordens de Rodas. Greve dos professores já!”
Já estamos há 20 dias propondo isso.
Em um de nossos panfletos, reproduzimos a declaração de 5 professores da FFLCH
e 1 da ECA que serviria de forte ponto de apoio para nos dirigirmos ao conjunto
dos professores. Mas nem o DCE, nem o Comando de Greve se mobilizam nesse
sentido. Pelo contrário, o que todos pudemos presenciar na semana passada,
justo numa assembleia realizada na Poli (que deveria ser exemplar para atrair
os estudantes dos cursos da Poli para o movimento grevista), foi uma briga de
torcidas para ver quem terá o poder de organizar a calourada em 2012: o DCE ou
o Comando de Greve. Mais de uma hora com repetidas votações sobre isso só
afastou estudantes do movimento (não só estudantes da Poli, mas de todas as
faculdades). Resultado: dispersão e refluxo.
De quem é a culpa? É claro que de
um modo geral, a responsabilidade é de todos os que estavam presentes na assembleia,
é do conjunto. Mas os que dirigem o DCE e os que foram eleitos para o Comando
de Greve (em especial os que estavam na mesa da assembleia) têm
responsabilidade muito maior. E nenhum estudante da USP é idiota, todos sabem
do que se trata: Há dois blocos disputando poder no movimento – de um lado a
atual direção do DCE (PSOL) e PSTU que conversam para montar chapa juntos para
as próximas eleições do DCE; e do outro lado os grupos que conversam para
montar chapa de oposição à atual gestão do DCE (LER-QI, MNN, PCO, etc). Acontece
que a maioria dos estudantes não está representada nessa disputa. Os estudantes
não querem saber agora quem vai ter mais votos nas próximas eleições do DCE. O
que os estudantes querem saber é: Como faremos para que o nosso atual movimento
de greve imponha a saída da PM do Campus, a derrubada de Rodas e arranque uma
Estatuinte da USP para que toda a comunidade universitária possa formular um
estatuto realmente democrático com mecanismos de resistência à privatização da
universidade.
Sabemos que as divergências entre
esses grupos políticos que hoje estão à frente do movimento na USP não serão
resolvidas. Não temos ilusão que do dia para a noite, PSOL, PSTU, LER, MNN e
PCO vão se abraçar e agir juntos em prol dos interesses mais urgentes dos
estudantes. E cada um desses grupos pode fazer o que bem entender. É direito
deles. Mas, o mínimo que deveriam fazer é agir em frente única. Se todos têm em
comum a bandeira “Fora PM” o que podem fazer juntos para que a soma de suas
forças seja maior do que a simples soma das partes num movimento amplo? O
Comando de Greve deveria ser um espaço para isso: onde, independente das
diferenças políticas, todos somassem esforços para alcançar os objetivos
comuns.
Infelizmente, a última assembleia
atestou a incapacidade de todos esses grupos de agir em frente única. Os únicos
que foram dormir satisfeitos naquela noite nublada de quarta-feira, 23/11,
foram Rodas e seus asseclas. Aliás, Rodas está apostando na incapacidade desses
grupos políticos de agir conjuntamente, para que o movimento seja vencido pelo
cansaço.
Na assembleia de hoje os estudantes
estão chamados a superar esse tipo de obstáculo. O primeiro sinal de manobra da
mesa para enrolar e estender a assembleia sem dizer respeito ao que fazer agora
para fortalecer a greve, deve ser combatido com proposta de troca da mesa da assembleia.
Se sairmos derrotados, esperamos que ao menos sirva de experiência para um
grande número de estudantes e que os prepare melhor para o próximo afluxo do
movimento – que provavelmente irá refluir depois de tantas assembleias
manobradas e com a pressão das provas de fim de ano e as férias que estão por
vir. Nada mais pode ser exigido dos estudantes que foram ao centro da cidade,
protestaram, foram à Av. Paulista, desafiaram seus professores, negociaram
entregas de trabalho e provas. Demonstraram grande disposição de luta. Mas os
que se propõem direção do movimento não souberam ou não quiseram desenvolver
isso.
Combater agora para tirar o máximo
do potencial deste movimento e aprender com os vacilos e erros para
recomeçarmos o movimento em 2012 melhor preparados – essa é nossa tarefa. Nós
estudantes temos as condições de sairmos vitoriosos, com a condição de não nos
deixarmos manobrar e não perdermos de vista os eixos que nos colocaram em
movimento de maneira tão poderosa como não se via há muito tempo: Fora PM do
Campus! Nenhuma punição aos estudantes! Fora Rodas! Estatuinte Soberana!
Venceremos!
Célula de estudantes da USP da Esquerda Marxista
Leia também:
24/11: Aonde vão as assembléias da USP?
23/11: Uma perspectiva para o movimento de greve da USP
22/11: O reitor Rodas acelera vertiginosamente a fratura social e política da USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário