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5 de março de 2012

Zé Dirceu e as alianças políticas – 1

Luiz Bicalho

Quero começar elogiando o texto do Zé Dirceu sobre “Desserviço que o preconceito impõe a democracia”. Nele, José Dirceu explica corretamente:
Não podemos ficar na defensiva e no recuo frente à violência e à chantagem de certos setores evangélicos que querem interditar o debate sobre esses temas no país e patrulhar todas as políticas públicas com relação às questões do aborto e da homossexualidade. Esses grupos buscam impor ao Estado brasileiro uma visão preconceituosa e repressiva. Os que dão guarida a esse comportamento violento que introduz em nossa sociedade o ovo da serpente do preconceito e do racismo prestam um desserviço à democracia e à convivência social”.


Se isso é verdade, como é que o Zé Dirceu continua defendendo as alianças que o PT faz a torto e a direito, incluindo ai a nomeação de um ministro, Marcelo Crivella do PRB (Ministro da Pesca) que teve o desplante de declarar a respeito do tema pertinente ao seu ministério “não sei colocar uma minhoca no anzol”? Ministro que foi nomeado apenas para manter o “diálogo” com a bancada evangélica no Congresso, diálogo que estava “rompido” exatamente por ter outro ministro (Gilberto Carvalho) feito em reunião pública um comentário parecido com o do Zé Dirceu?


O problema é José Dirceu se declara um “aliancista” e acaba entrando em contradições para defender esta política do PT, política cuja única coerência é o abandono do socialismo e a defesa da burguesia, que tem como princípio manter os lucros abertos do capital em nome do “nosso projeto” que a esta altura do campeonato está, para dizer o mínimo, muito distante (se por “nosso projeto” entendermos o socialismo).

No artigo em que se declara “aliancista” 'A aliança com o PMDB não é pouca coisa' - Zé Dirceu explica:
“Todo mundo sabe que sou o que muitos chamam de aliancista. Sempre defendi a prioridade na aliança com o PMDB, partido fundamental para a governabilidade. Mas trazer a questão da eleição de São Paulo e do pleito municipal à baila quando se discute a relação com o governo federal não faz sentido”.

Ora essa, que diabo de aliança é essa (com perdão aos evangélicos, que também têm direito à aliança e ministro nacional) em que no governo federal é uma coisa e nos pleitos municipais é outra coisa? Na verdade, a coisa não é bem assim, o Zé Dirceu sabe bem disso e ele próprio trata de se corrigir, quase que como uma ameaça para o PMDB:
“Agora, em nível nacional, o PT está em 118 cidades, incluindo capitais e cidades de mais de 150 mil habitantes. Nesse âmbito, o PT já apoia o PMDB em quatro cidades e pode apoiar em oito.”

Ou seja, o PMDB trate de ficar quieto senão o PT pode não apoiá-lo nas oito cidades e talvez retirar o apoio nas outras quatro. Belo modo de fazer política, tão Brasil! E Zé Dirceu explica como estão estes apoios e em que locais:
Nas últimas eleições tivemos quase o mesmo tanto de votos que o PMDB nos municípios. O PMDB elege prefeituras em maior número, em pequenas cidades. Já, nos Estados, o PMDB tem uma posição superior à do PT nos governos estaduais, começando pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, onde o partido é aliado do PSDB. Assim, parte da bancada do PMDB pode ter outras razões e motivos para o manifesto divulgado ontem, que não as eleições municipais. Vale lembrar, também, nas eleições de 2010, quando o PMDB indicou Michel Temer para vice de Dilma Rousseff, que no Amazonas, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Maranhão estivemos juntos nas vitórias nesses Estados. Apoiamos, ainda, o PMDB em Minas Gerais e Tocantins. Trabalhamos em conjunto, também, no Paraná, Espírito Santo, Ceará, Paraíba e Alagoas”.

Os exemplos do Zé são tocantes. Maranhão, aonde o PT quase foi destroçado, com militantes históricos que construíram o partido, como Manoel da Conceição que fez greve de fome contra o acordo aliancista com os ‘Sarneys’, gente da mesma laia dos oligarcas que destroçaram sua perna e mataram milhares de seus companheiros de luta.

No Rio de Janeiro, com um governador que se destaca pela violência policial e onde, recentemente, um cabo PM foi preso antes de uma greve por manifestar opinião favorável a ela, onde os manifestantes contra o aumento do preço da tarifa de transporte nas barcas foram indiciados na polícia antes da manifestação, por terem convocado a manifestação! Belos exemplos de democracia que o Zé nos apresenta para defender!

No Rio, sem que tenhamos nenhuma solidariedade com o ex-governador e atual deputado Garotinho, alias, diga-se de passagem, um dos integrantes da “base aliada”, tanto ele como a deputada Janira, do PSOL, foram alvo de escutas telefônicas onde até hoje não se mostrou nem a decisão judicial que permitiu tais escutas nem a integra das gravações. Onde no inquérito contra o cabo que foi preso, a solicitação de ouvir a totalidade das gravações foi negada pela corte policial! Sim, um belo exemplo de falta de democracia. Chega a beirar a ditadura!

Assim, meu caro José Dirceu, beira demais a hipocrisia você defender em vários artigos  (ver os links artigo 1, 2 e 3 a Comissão da Verdade, defesa mais que justa e, ao mesmo tempo, defender um governo como o do Sr. Cabral que adota métodos policiais e investigativos que cheiram demais a ditadura. Presos por delito de opinião? Inquérito policial para quem chama manifestação contra aumento de preços do transporte? Prender administrativamente todos os grevistas do serviço de salva-vidas? Este é nosso “aliado” democrático?

Mas, José Dirceu, não contente com suas contradições, explica no último parágrafo como o PMDB deve se comportar, o cinismo fala por si:
Como vemos a aliança PT-PMDB não é pouca coisa. Então, vamos deixar os municípios em paz e discutir o que interessa ao PMDB: suas relações com o governo federal.” (grifo nosso).

Ou seja, o que interessa mesmo são os cargos e as verbas que o PMDB terá ‘direito’ a manejar.

 Mais cínico e mais antitrabalhador, impossível!

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