*Lúcia Pereira
A repressão é a norma de Rodas |
Nos
últimos 4 meses, somente no estado de SP inúmeros acontecimentos envolvendo
embates entre movimentos sociais e a PM foram noticiados, ficando a grande
questão: qual o papel das forças militares em uma sociedade capitalista, a não
ser o de servir apenas para proteger a propriedade privada da burguesia. Exemplo disso foram as invasões ocorridas na
USP com a retomada pela polícia da moradia no domingo de Carnaval, de
Pinheirinho, da Cracolândia, dos prédios ocupados por sem-tetos espalhados pela
cidade, o incêndio da comunidade do Moinho, etc. Na USP, o convenio firmado
entre a Universidade e a PM tem a mesma conotação, mas num contexto diferente:
transformar um espaço público em uma propriedade privada, vigiada e direcionada
pelo Estado e pelas grandes corporações a serviço do capital.
As tensões envolvendo estudantes, a PM e a reitoria da USP são consequências das medidas impostas pela reitoria que, na figura de João Grandino Rodas, só têm aumentado. Isso lhe rendeu o título de “persona non grata” pela comunidade acadêmica. Seu modelo de gestão é baseado na repressão de todo e qualquer movimento contestador dentro da Universidade, fato este comprovado e diagnosticado antes mesmo de acontecer o convênio entre a Secretaria de Segurança Pública e a Universidade.
Abusos da
PM no campus foram relatados e divulgados em redes sociais por membros da
comunidade uspiana, como por exemplo, a manifestação espontânea de estudantes
ocorrida em novembro de 2011 (quando da prisão de 3 estudantes) foi reprimida
com bombas, tiros de borracha e cacetadas da PM; a desocupação da reitoria no
mesmo mês, a qual rendeu a prisão de 72 estudantes e mobilizou uma tropa de
mais de 400 homens armados, um verdadeiro cenário de guerra. Esta mesma PM usou
de sua força “legal” para dar tapas em um estudante negro que estava em seu
livre direito de estar em um espaço público, sendo expulso do ambiente de livre
circulação. Outro fato recente foi a invasão da tropa de choque à Moradia
Retomada quando aproximadamente às 5h da manhã do domingo de carnaval a PM
expulsou e prendeu os estudantes que lá viviam por não terem conseguido vagas
no CRUSP. Lembramos que a Moradia Retomada fazia parte do espaço residencial da
USP, mas que virou um espaço da burocracia da universidade - sendo transformado
em escritório da COSEAS - e que em 2010 foi retomado como moradia através de
assembleias dos estudantes.
Dando
continuidade ao processo de limpeza política na Universidade, Rodas expulsou 6
estudantes tendo como justificativa que estes incitaram a ocupação de 2010 e
que depravaram o espaço público. O que não é divulgado é que estas expulsões e
a perseguição por estes estudantes foram políticas.
É
inaceitável o que a direção da USP está fazendo. Há muito a crise institucional
se instaurou na universidade, fazendo com que o aparato militar fosse utilizado
para que a ordem fosse garantida através da repressão de todo e qualquer tipo
de manifestação. A USP, ao mesmo tempo em que está sendo apartada do restante
da sociedade, tem se mostrado totalmente conveniente às necessidades da economia
mundial, recebendo investimentos da iniciativa privada no ensino público e no
fomento destinando à estas instituições mão de obra altamente qualificada e
especializada. A autonomia da produção acadêmica está deixando de existir e a
ciência está cada vez mais ‘técnica’ e voltada às necessidades do capital, buscando
maior eficiência para a sua apropriação, gerenciamento e reprodução.
Roda pensa
que está gerindo a USP, um espaço público, como se ele fosse
sua própria casa.
Sua
truculência administrativa é tamanha que até na Calourada Unificada ele
interveio tentando impedir a livre expressão de estudantes proibindo a entrada
de equipamentos de som no campus, impedindo a entrada de banheiros químicos e de
cervejas, que tradicionalmente fazem parte das festas e financiam o movimento
estudantil. Somente após quase um dia de negociações e pressão de estudantes e
advogados, a festa foi possível de acontecer.
Nós,
estudantes, devemos da um basta contra todos estes abusos de poder e
arbitrariedades de Rodas. A greve é extremamente importante para que nosso
grito constantemente sufocado seja ouvido. Não deixaremos o livre pensar e a
ciência à mercê do tecnicismo, das grandes corporações e das necessidades do
capital. Nós estudantes somos a força majoritária dentro da universidade e
necessitamos juntar forças contra o projeto político e administrativo de Rodas.
Deveremos buscar apoio junto aos professores e funcionários. Só a unidade
poderá por fim à repressão e por abaixo Rodas!
FORA
RODAS!
FORA
PM DA USP! Pela discussão e implementação de um modelo alternativo de segurança
no campus!
POR
UMA ESTATUINTE SOBERANA NA USP!
PELO
DIREITO DE MORADIA DOS ESTUDANTES!
PELO
FIM DA PERSEGUIÇÃO POLÍTICA AOS ESTUDANTES E FUNCIONÁRIOS! PELA LIBERDADE DE
EXPRESSÃO E ORGANIZAÇÃO!
*Lúcia Pereira é
estudante do 4º ano de Ciências Sociais da USP e militante da Esquerda
Marxista.
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