Abaixo poderão ler parte de um artigo do camarada Brian Adams que estará publicado no Jornal Luta de Classes que sairá na próxima semana. Veja matérias sobre o assunto em http://www.marxismo.org.br/. As massas seguem se enfrentando à repressão e tomaram a Praça Tahrir, querem a renuncia imediata do Conselho Supremo das Forças Armadas. É a marcha da revolução. Prossegue a primavera dos povos árabes!
Brian Adams
Os acontecimentos no Egito estão se
desenvolvendo a grande velocidade. Da mesma forma que nos últimos dias de
Mubarak em fevereiro deste ano, estamos vendo batalhas diárias nas ruas do
Cairo e de outros lugares. As massas egípcias estão decididas a levar a
revolução até o final. O choque entre a revolução e a contrarrevolução está
provocando uma crise dentro de todas as forças políticas, conforme as bases se
movem instintivamente em direção à revolução e os dirigentes vacilam e tratam
de conter as massas.
Os últimos protestos, que entram agora
[23 de novembro] em seu quinto dia, são os maiores desde o início da revolução
e da queda de Mubarak. Segundo Ahram Online, a “marcha de um milhão de homens”
de terça-feira, 22 de novembro, conseguiu mobilizar um milhão de pessoas na
Praça Tahrir e 100 mil em Alexandria. Ademais , houve protestos de muitos
milhares de pessoas em Suez, Port Said, Gharbiya, Fayoum, Damietta e Minya.
Tais números são ainda mais impressionantes dada a brutalidade com que o Estado
enfrenta os manifestantes. As ruas em torno da Praça Tahrir se converteram em
enormes campos de batalha, com a polícia disparando rajadas após rajadas de gases
lacrimogêneos e de balas de metal revestidas de borracha, enquanto que as
massas e os manifestantes se defendem com pedras e coquetéis Molotov.
A violência e a brutalidade
desdobradas pelas forças do Estado – os corpos de homens armados – não podem ser
subestimadas. Foram assassinadas dezenas de pessoas e há milhares de feridos.
Os informes indicam que as Forças de Segurança Central estão utilizando um novo
tipo de gás lacrimogêneo mais potente que causa asfixia extrema e crises
epilépticas. Em Qena, o lançamento de gases lacrimogêneos em blocos de moradias
deixou uma bebê de noves meses morta. Em outros locais, disparou-se gás
lacrimogêneo nos hospitais e mesmo dentro de mesquitas.
Esta brutalidade, em vez de assustar
os manifestantes e refrear as multidões, simplesmente serviu para enfurecer as
massas ainda mais e para inflamar sua presença nas ruas. As massas
revolucionárias – em primeiro lugar, os jovens, que foram os lutadores mais
decididos desde o início do movimento em 25 de janeiro – perderam todo o medo.
Como costuma acontecer nesses casos, o chicote da contrarrevolução não fez mais
que impulsionar a revolução adiante.
“Que vá
embora, que vá embora!”
Como foi informado anteriormente (Egito
– A revolução entra em uma nova etapa), estes últimos protestos estão dirigidos
contra o regime militar – o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) – que
preencheu o vazio de poder deixado depois da saída de Hosni Mubarak em 11 de
fevereiro, e que se negou a abandonar seu posto, apesar dos repetidos apelos e
protestos das massas.
O protesto atual, que começou com uma
manifestação na Praça Tahrir na última sexta-feira, foi organizado por um
conjunto de diferentes grupos políticos que deixaram suas bandeiras de lado
para se unir contra o processo eleitoral e constitucional que o CSFA colocou em marcha. As eleições
parlamentares previstas para 28 de novembro são consideradas com justiça como
uma farsa, em que o CSFA sugeria sua continuidade como um corpo
supra-constitucional depois das eleições e também atrasar as eleições
presidenciais até o final de 2012 ou o início de 2013.
Em resposta aos protestos, o marechal
de campo Mohamed Hussein Tantawi, chefe do CSFA, fez uma declaração pública em
que anunciou a renúncia do Gabinete e a antecipação das eleições presidenciais
para junho de 2012 (o mais tardar). Estas concessões, contudo, da mesma forma
que as escassas reformas oferecidas por Ben Ali, Mubarak e Kadhafi em seus
últimos dias, são demasiado poucas e chegam demasiado tarde para as massas
revolucionárias da Praça Tahir, que se apressaram a rejeitar as ofertas de
Tantawi. A multidão respondeu ao marechal de campo, que pediu aos manifestantes
que se dispersassem, com gritos de “que vá embora, que vá embora, Tantawi deve
ir embora”.
Os acontecimentos estão avançando
rapidamente, a confiança das massas é cada vez maior e sua consciência aumenta;
o CSFA é incapaz de controlar a situação. A semelhança com os acontecimentos de
fevereiro deste ano é clara, com uma elite governante isolada da situação real
e do estado de ânimo das ruas, tratando de se manter no poder a todo custo. Da
mesma forma que nos últimos dias de Hosni Mubarak, vemos os apelos do CSFA à
calma e à ordem, acompanhadas simultaneamente pelo desdobramento da violência
estatal. Com efeito, duas horas após o discurso de Tantawi, as forças de
segurança já haviam regressado e os combates nas ruas reiniciaram.
A web de notícias egípcia Al Masry Al
Youm : comenta a semelhança entre as jornadas de fevereiro e a situação atual:
“Pouco depois
de terminar seu discurso, milhares de manifestantes da Praça Tahir gritaram
palavras-de-ordem que lembram as utilizadas durante os protestos que derrubaram
o presidente Hosni Mubarak. ‘Que vá embora, que vá embora’, foi o que disseram
a Tantawi.
“As
crescentes semelhanças entre estes protestos e os distúrbios do início deste
ano não se limitam às palavras-de-ordem. O ativista e analista Samer Soliman
comparou o discurso de Tantawi com os discursos que Mubarak fez no início da
revolução, dizendo que chegou demasiado tarde e que oferecia soluções que já
não eram mais aceitáveis depois da recente escalada da luta.
‘É óbvio que
seu momento já passou e que não se dá conta do que está acontecendo ao seu
redor, da mesma forma que Mubarak’, disse Soliman.
“Islam Lofty,
membro da Coalizão Juventude Revolucionária 25 de Janeiro, e co-fundador do
partido Corrente Egípcia, disse que os manifestantes da praça rechaçaram
imediatamente como ‘decepcionante’ o discurso de Tantawi.
“O ativista
Ahmed Maher, coordenador do Movimento Juvenil 6 de Abril, concordou, dizendo
que ‘o discurso não responde às demandas colocadas pelos manifestantes da Praça
Tahir e em outros locais. O discurso é o mesmo discurso de Mubarak em seus
últimos dias’”.
Ver matéria em: (http://www.almasryalyoum.com/en/node/517625)
Tanto o tom quanto o conteúdo do
discurso de Tantawi foram semelhantes aos de Mubarak, com um apelo conciliador
às pessoas para que se retirassem em ordem e em calma. O discurso de
Tantawi sugere que deve estar vivendo em outro planeta durante os últimos dez
meses, com proclamações tais como a de que o CSFA representava a vontade do
povo egípcio e que protegia o “interesse nacional”, como se nunca se tivessem
disparado balas em nenhum cidadão egípcio, e que havia sido paciente com as
“tentativas de manchar a reputação” do CSFA. É incrível pensar que ele pudesse
esperar que alguém acreditasse nessas bobagens hipócritas que brotavam
simultaneamente junto à brutal repressão do Estado nas ruas.
Mas nem a violência nem as concessões,
da mesma forma que nos últimos dias de Mubarak, serão suficientes para manter o
CSAF no poder. Os dias do regime militar estão contados, e cada vez mais o
assunto não é se o CSFA decidirá ir embora, e sim quando será forçado a fazê-lo.
Traduzido por: Fabiano Adalberto
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