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24 de novembro de 2011

Egito: As massas se levantam contra os generais do exército

Abaixo poderão ler parte de um artigo do camarada Brian Adams que estará publicado no Jornal Luta de Classes que sairá na próxima semana. Veja matérias sobre o assunto em  http://www.marxismo.org.br/As massas seguem se enfrentando à repressão e tomaram a Praça Tahrir, querem a renuncia imediata do Conselho Supremo das Forças Armadas. É a marcha da revolução. Prossegue a primavera dos povos árabes!


Brian Adams

Os acontecimentos no Egito estão se desenvolvendo a grande velocidade. Da mesma forma que nos últimos dias de Mubarak em fevereiro deste ano, estamos vendo batalhas diárias nas ruas do Cairo e de outros lugares. As massas egípcias estão decididas a levar a revolução até o final. O choque entre a revolução e a contrarrevolução está provocando uma crise dentro de todas as forças políticas, conforme as bases se movem instintivamente em direção à revolução e os dirigentes vacilam e tratam de conter as massas.


Os últimos protestos, que entram agora [23 de novembro] em seu quinto dia, são os maiores desde o início da revolução e da queda de Mubarak. Segundo Ahram Online, a “marcha de um milhão de homens” de terça-feira, 22 de novembro, conseguiu mobilizar um milhão de pessoas na Praça Tahrir e 100 mil em Alexandria. Ademais, houve protestos de muitos milhares de pessoas em Suez, Port Said, Gharbiya, Fayoum, Damietta e Minya. Tais números são ainda mais impressionantes dada a brutalidade com que o Estado enfrenta os manifestantes. As ruas em torno da Praça Tahrir se converteram em enormes campos de batalha, com a polícia disparando rajadas após rajadas de gases lacrimogêneos e de balas de metal revestidas de borracha, enquanto que as massas e os manifestantes se defendem com pedras e coquetéis Molotov.

A violência e a brutalidade desdobradas pelas forças do Estado – os corpos de homens armados – não podem ser subestimadas. Foram assassinadas dezenas de pessoas e há milhares de feridos. Os informes indicam que as Forças de Segurança Central estão utilizando um novo tipo de gás lacrimogêneo mais potente que causa asfixia extrema e crises epilépticas. Em Qena, o lançamento de gases lacrimogêneos em blocos de moradias deixou uma bebê de noves meses morta. Em outros locais, disparou-se gás lacrimogêneo nos hospitais e mesmo dentro de mesquitas.

Esta brutalidade, em vez de assustar os manifestantes e refrear as multidões, simplesmente serviu para enfurecer as massas ainda mais e para inflamar sua presença nas ruas. As massas revolucionárias – em primeiro lugar, os jovens, que foram os lutadores mais decididos desde o início do movimento em 25 de janeiro – perderam todo o medo. Como costuma acontecer nesses casos, o chicote da contrarrevolução não fez mais que impulsionar a revolução adiante.

“Que vá embora, que vá embora!”



Como foi informado anteriormente (Egito – A revolução entra em uma nova etapa), estes últimos protestos estão dirigidos contra o regime militar – o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) – que preencheu o vazio de poder deixado depois da saída de Hosni Mubarak em 11 de fevereiro, e que se negou a abandonar seu posto, apesar dos repetidos apelos e protestos das massas.

O protesto atual, que começou com uma manifestação na Praça Tahrir na última sexta-feira, foi organizado por um conjunto de diferentes grupos políticos que deixaram suas bandeiras de lado para se unir contra o processo eleitoral e constitucional que o CSFA colocou em marcha. As eleições parlamentares previstas para 28 de novembro são consideradas com justiça como uma farsa, em que o CSFA sugeria sua continuidade como um corpo supra-constitucional depois das eleições e também atrasar as eleições presidenciais até o final de 2012 ou o início de 2013.

Em resposta aos protestos, o marechal de campo Mohamed Hussein Tantawi, chefe do CSFA, fez uma declaração pública em que anunciou a renúncia do Gabinete e a antecipação das eleições presidenciais para junho de 2012 (o mais tardar). Estas concessões, contudo, da mesma forma que as escassas reformas oferecidas por Ben Ali, Mubarak e Kadhafi em seus últimos dias, são demasiado poucas e chegam demasiado tarde para as massas revolucionárias da Praça Tahir, que se apressaram a rejeitar as ofertas de Tantawi. A multidão respondeu ao marechal de campo, que pediu aos manifestantes que se dispersassem, com gritos de “que vá embora, que vá embora, Tantawi deve ir embora”.

Os acontecimentos estão avançando rapidamente, a confiança das massas é cada vez maior e sua consciência aumenta; o CSFA é incapaz de controlar a situação. A semelhança com os acontecimentos de fevereiro deste ano é clara, com uma elite governante isolada da situação real e do estado de ânimo das ruas, tratando de se manter no poder a todo custo. Da mesma forma que nos últimos dias de Hosni Mubarak, vemos os apelos do CSFA à calma e à ordem, acompanhadas simultaneamente pelo desdobramento da violência estatal. Com efeito, duas horas após o discurso de Tantawi, as forças de segurança já haviam regressado e os combates nas ruas reiniciaram.

A web de notícias egípcia Al Masry Al Youm : comenta a semelhança entre as jornadas de fevereiro e a situação atual:

“Pouco depois de terminar seu discurso, milhares de manifestantes da Praça Tahir gritaram palavras-de-ordem que lembram as utilizadas durante os protestos que derrubaram o presidente Hosni Mubarak. ‘Que vá embora, que vá embora’, foi o que disseram a Tantawi.

“As crescentes semelhanças entre estes protestos e os distúrbios do início deste ano não se limitam às palavras-de-ordem. O ativista e analista Samer Soliman comparou o discurso de Tantawi com os discursos que Mubarak fez no início da revolução, dizendo que chegou demasiado tarde e que oferecia soluções que já não eram mais aceitáveis depois da recente escalada da luta.

‘É óbvio que seu momento já passou e que não se dá conta do que está acontecendo ao seu redor, da mesma forma que Mubarak’, disse Soliman.

“Islam Lofty, membro da Coalizão Juventude Revolucionária 25 de Janeiro, e co-fundador do partido Corrente Egípcia, disse que os manifestantes da praça rechaçaram imediatamente como ‘decepcionante’ o discurso de Tantawi.

“O ativista Ahmed Maher, coordenador do Movimento Juvenil 6 de Abril, concordou, dizendo que ‘o discurso não responde às demandas colocadas pelos manifestantes da Praça Tahir e em outros locais. O discurso é o mesmo discurso de Mubarak em seus últimos dias’”.

Tanto o tom quanto o conteúdo do discurso de Tantawi foram semelhantes aos de Mubarak, com um apelo conciliador às pessoas para que se retirassem em ordem e em calma. O discurso de Tantawi sugere que deve estar vivendo em outro planeta durante os últimos dez meses, com proclamações tais como a de que o CSFA representava a vontade do povo egípcio e que protegia o “interesse nacional”, como se nunca se tivessem disparado balas em nenhum cidadão egípcio, e que havia sido paciente com as “tentativas de manchar a reputação” do CSFA. É incrível pensar que ele pudesse esperar que alguém acreditasse nessas bobagens hipócritas que brotavam simultaneamente junto à brutal repressão do Estado nas ruas.

Mas nem a violência nem as concessões, da mesma forma que nos últimos dias de Mubarak, serão suficientes para manter o CSAF no poder. Os dias do regime militar estão contados, e cada vez mais o assunto não é se o CSFA decidirá ir embora, e sim quando será forçado a fazê-lo.

Traduzido por: Fabiano Adalberto

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