Vito Giannotti
Publicado em 21.07.2011 – Brasil de Fato
É grande, sim é verdade, mas tão preocupado com a saúde e o bem estar de seus empregados, quanto os donos de escravos de séculos atrás. Prova disso é que 78% dos seus trabalhadores admitem sofrer dores constantes no corpo, principalmente nos ombros, braços, costas, pescoços e pulsos, causadas pelo esforço repetido feito por horas e horas, sem qualquer interrupção e em condições insalubres de frio externo e umidade intensa.
Publicado em 21.07.2011 – Brasil de Fato
Reproduzimos aqui o texto de Vito que foi divulgado no jornal Brasil de Fato. Vito é responsável pelo Núcleo Piratininga e escreveu vários livros sobre jornalismo operário. Foi metalúrgico e militante dirigente do Movimento de Oposição Sindical dos Metalúrgicos de São Paulo nos duros anos da ditadura militar.
A base do sistema capitalista é uma só: a exploração máxima dos trabalhadores e da natureza visando unicamente o lucro, ou seja, a multiplicação do capital nas mãos dos donos das empresas. O resto é conversa mole. Se o capital puder dispensar milhares de trabalhadores e deixá-los na sarjeta, não há problema nenhum. Uma empresa capitalista não é uma entidade filantrópica. Não tem nenhumíssimo objetivo social, humano, humanitário. Se puder acelerar o ritmo de trabalho até o extremo ela vai fazer. Quem morrer que morra. Há sempre milhões à espera de uma vaga.
Enquanto isso, iludidos ou enganadores falam de “responsabilidade social” das empresas. Outros fazem poesia com a tal “responsabilidade ambiental”. Balelas. Para qualquer empreendimento capitalista não entra na contabilidade a saúde, a vida dos trabalhadores dentro ou fora da empresa.
A pesquisa da Confederação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação (CNTA), junto com a UFRGS vem comprovar isso. Você sabia que em frigoríficos de cortar frangos, os trabalhadores têm que fazer até 90 cortes por minuto? Você acredita nisso? É possível isso? Sim, possível e real. É daí para pior.
Vamos ver alguns tópicos da pesquisa da CNTA divulgada no Jornal NOSSA LUTA de Maio/2011, do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Pelotas.
Vida útil de cinco anos
A "vida útil" dos escravos que viviam na época de Zumbi dos Palmares (1655-1695) e trabalhavam nas lavouras de cana era de 20 anos. Hoje, os trabalhadores dos frigoríficos do Rio Grande do Sul têm uma "vida útil" em média é de apenas cinco anos. Em cinco anos estão destruídos, acabados.
O estudo da CNTA feito no ano passado e publicado agora mostra que 77,5% dos trabalhadores da indústria da carne sofrem de alguma doença relacionada ao trabalho. 96% precisam tomar medicação para suportar a dor.
Mais: 99,5% dos 640 trabalhadores entrevistados dos frigoríficos de Capão do Leão, Bagé, São Gabriel e Alegrete são empregados de um mesmo grupo: o Marfrig.
Dor por todos os lados
O grupo Marfrig se orgulha de ter 151 unidades espalhadas por 22 países.
Os principais efeitos disso se revelam fora do ambiente de trabalho, quando as mãos ficam dormentes, os braços tremem e a dor aparece ao se fazer coisas simples como abotoar a camisa ou escovar os dentes. A pesquisa revelou que ao final de um dia de trabalho 43,9% sentem um "cansaço insuportável" que afeta o sono, causa depressão e prejudica a convivência familiar.
Sintomas apresentados pela pesquisa
Eis alguns dos sintomas que os trabalhadores apresentam:
. 24,3% têm dificuldade para abrir portas
. 30,4% têm dificuldade de escovar os dentes ou pentear o cabelo
. 35% deixam cair copos ou outros objetos
. 61,1% sentem as mãos dormentes sem motivo
. 32,5% têm dificuldade para abotoar roupas
. 61,8% têm dificuldade para dormir
. 51,4 % sentem tremedeiras em braços e pernas.
Não existe face humana no Capitalismo. O capital só busca lucro e o bem estar da população é incompatível com isso.
ResponderExcluirprezado criticadacritica o texto afirma exatamente isso: "Se o capital puder dispensar milhares de trabalhadores e deixá-los na sarjeta, não há problema nenhum. Uma empresa capitalista não é uma entidade filantrópica. Não tem nenhumíssimo objetivo social, humano, humanitário. Se puder acelerar o ritmo de trabalho até o extremo ela vai fazer. Quem morrer que morra. Há sempre milhões à espera de uma vaga." grato pelo comentário: o editor
ResponderExcluirAnimais e humanos confinados no mesmo campo de concentração. "A grandeza de um país e seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata seus animais" Mahatma Gandhi
ResponderExcluirO Ministério do Trabalho e Emprego que deveria fiscalizar esses empresas para que os responsáveis fossem punidos,hoje é uma instituição falida visto o abandono em que se encontra. Essa fragiliade do Mte contribui para que mais trabalhadoras e trabalhadores fiquem expostos diariamente a diversos riscos ocupaionais. A cada 3 minutos morre uma pessoa vítima de acidente de trabalho.
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