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1 de março de 2012

Zé Dirceu e a economia – 2


Luiz Bicalho

China, o chão de fábrica do mundo...por enquanto

O Blog do Zé continua com uma série de artigos sobre a economia. Há, em todos eles, um tom nacionalista, desde o estranhamento com os EUA por terem decidido contra o contrato com a Embraer ("Americanos rejeitam contrato com a Embraer"), passando pela discussão dos juros e do papel dos bancos em dois artigos ("Verdades e mitos sobre a redução do spread") e ("BC lista medidas para reduzir incoerências do sistema financeiro"), pelo papel do Estado nos investimentos ("Superávit ou investimentos?") e o terminando com o acordo de 22 pontos entre Fiesp e algumas Centrais Sindicais ("Defender nossa indústria é preciso").


Se pensarmos em termos capitalistas, os artigos de José Dirceu guardam uma perfeita coerência: juros mais baixos implicam em maiores investimentos, o Estado deve investir mais e pagar menos juros (mais investimentos), o Brasil deve defender seus empregos – defesa do contrato Embraer e do acordo Fiesp - Centrais Sindicais.

Eu quero dizer que posso ter muitos epítetos sobre um Presidente de uma Central Sindical. Mas burro ele não é. E José Dirceu, que é um ativo defensor da CUT, entrevista em seu blog o Presidente da UGT, uma das Centrais rivais da CUT. E este senhor (Ricardo Patah) vem mostrar o que ele realmente defende nesta entrevista, fingindo-se de inocente (que também ele não é).

Ricardo começa explicando o papel da China na queda de nossa malha industrial:
Tem produto que vem da China que não dá para compreender. Daqui a pouco, isso vai se repetir com os automóveis. Por exemplo, tem montadora asiática que faz mágica. Oferece produtos de qualidade que chegam no Brasil mais baratos que os produzidos aqui.


Ora, todo o mundo sabe o nome desta “mágica”: os grandes empresários, em busca de baixos salários e exploração intensiva da mão de obra chinesa, deslocaram suas fábricas para lá. É esta a “mágica” que permite carros e quinquilharias de todo o tipo, assim como produtos de alta tecnologia (telefones e computadores da Apple, por exemplo) serem fabricados lá a preços baixos! Ricardo finge não saber da “mágica” e continua, impávido: É muito fácil e barato importar. Em contrapartida, por aqui temos os tributos elevados, uma taxa de juros que, ainda que, há anos, venha caindo, é uma das mais altas do mundo. E há a questão do câmbio valorizado. A somatória desses fatores e da política macroeconômica real contribui para que não haja um investimento na produção nacional.
O nosso custo realmente é muito elevado. Temos que ter diminuição do custo, mas as empresas também tem que ter responsabilidade social. Tem que haver uma discussão mais ampla sobre a reforma tributária. Do contrário, o impacto será sempre sobre o social, à custa de direitos consagrados dos trabalhadores.

Ricardo repete o mantra de toda a burguesia: vamos diminuir os custos. Mas, quais são os custos que uma empresa tem? Além dos insumos (matéria prima), maquinaria, sobra a força de trabalho. Como diminuí-los? Como sempre, a burguesia entra com força exatamente onde lhe interessa: no custo da força de trabalho, ou seja, nos salários diretos e indiretos (previdência social, FGTS, etc). Esta é a “Reforma Tributária” que pretende a burguesia e que está no manifesto dos “22 pontos”: desonerar a Folha. Ricardo assinou isto e joga para a plateia dizendo que vamos discutir para que o custo não caia sobre as costas dos trabalhadores. Como assim?

Existem duas classes sociais principais: a burguesia e os trabalhadores. Se o custo não cai sobre os trabalhadores, recairá sobre a burguesia. Mas a burguesia chora que não pode investir “porque seus custos são altos”. Então, para retirar os custos de suas costas, tem que jogar em outras, ou seja, nas costas dos trabalhadores.

E os juros, dirão todos, onde entram nisso? Relembremos: desde o início do século passado que os grandes bancos fundiram-se com as indústrias criando as grandes corporações (monopólios, multinacionais). Estes ‘Bancos-Industrias’ é que dominam o mundo. Todo grande banco está associado com dezenas (ou controla) de indústrias. Toda grande indústria tem o seu próprio banco ou é dependente (associada) com um grande banco. Não existe isso de que a indústria seja separada e concorrente com os bancos.

O choro da indústria, aqui, é o choro de uma parte do capital premido pelo capital financeiro internacional, que mantém os juros altos. Os empresários daqui preferem muito mais brigar com os trabalhadores do que com estes bancos.

Alias, desmistifiquemos o problema dos juros. Eles podem e devem baixar? Sim. E porque não baixam? Porque se baixar os juros o Brasil que se tornou o queridinho do mercado internacional justamente por causa disso, se tornará da noite para o dia o patinho feio. Ou seja, se não existe ganho com os juros, pra que mandar capital para o Brasil? E, sem capital, como manter os investimentos que todos eles querem e sonham?

A questão é que a manutenção dos juros altos é uma das formas de remunerar o capital externo, como também a remessa de lucros. O governo paga juros altos (e diminui a sua capacidade de investimento, como corretamente aponta José Dirceu), aumenta com isso o lucro dos bancos, que financiam as indústrias, inclusive as multinacionais, que remetem o lucro para o exterior, que usam este lucro para investir em títulos da dívida do Brasil para ter mais lucros. Sim, o mundo capitalista gira em torno do lucro!

Qual o problema que faz com que todos, então, comecem a se desesperar? O problema é que a para a conta fechar, faltou a esfera da produção-venda, ou seja, da extração de mais valia. E é ai que a ‘porca está torcendo o rabo’ no mundo inteiro, porque o mundo produz mais do que pode consumir.

E ai, todo mundo quer fechar seu mercado, como choram os capitalistas brasileiros, todo mundo quer que as compras governamentais sejam feitas em empresas brasileiras. E, então, a ‘surpresa’ de José Dirceu com a decisão dos EUA de cancelar a compra dos aviões da Embraer só pode ser cinismo. Se o Brasil defende o seu mercado, porque os EUA não fariam o mesmo? O grande problema é que esse jogo terá um vencedor. Os EUA podem produzir aviões como os da Embraer. E o Brasil, pode produzir caças como os da Boeing? NÃO! Ou seja, aqui se nota a diferença entre um pais imperialista e outro atrasado.

Como sair desta cirando louca, como se prevenir contra o vendaval que vem por ai, como conseguir defender o nosso “mercado” contra os outros? Impossível. A única resposta possível é o socialismo, é a defesa de uma nova sociedade fundada na propriedade coletiva dos bens de produção, destinados a satisfazer as necessidades da humanidade e não a sanha de lucros dos empresários. Aqui, nos EUA, na China e na Grécia. O resto é conversa fiada que não resiste ao mínimo sopro dos grandes bancos.

Um comentário:

  1. SERÁ POSSÍVEL QUE A GENTE NÃO ENTENDA QUE: SOMOS ANALFABETOS EM TECNOLOGIA. NÂO TEMOS CONDIÇÕES DE TRAZER FABRICAS PARA O BRASIL. .. SÓ SE ATRÁS DAS FABRICAS , TRANSATLÂNTICOS CHEIO DE GENTE HABILITADAS PARA TOCAR ESSAS FÁBRICAS. O BRASIL DORMIU NESSES ULTIMOS 50 ANOS . FALTA EDUCAÇÃO , EDUCAÇAO TECNOLOGICA E ISSO NÃO SE FAZ DA NOITE PARA O DIA. ASSIM ESTAMOS CONFINADOS NA AMERICA DO SUL. É O QUE TEMOS DE FAZER: EXPANSÃO TOTAL, SEM NACIONALISMO BARATO, COM A AMERICA DO SUL. INVESTIMENTO EM MASSA PARA EDUCAÇÃO!!!!!SEM ESSA DE QUE A CHINA TIRA "FREGUES" NOSSO. A REALIDADE É QUE TODO NOSSO PARQUE INDUSTRIAL SE RENOVA COM BENS DE CAPITAL DA CHINA...EMPRESÁRIOS BURROS, E POLÍTICAS ESTÚPIDAS FIZERAM DO BRASIL O QUE AI ESTÁ!..AINDA TEMOS COMODITIES E ALIMENTOS PARA O MUNDO...AINDA BEM! E AINDA ASSIM, A AFRICA VEM AI!

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