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22 de junho de 2011

No Encontro das Macros do PT-SP a base se insurge contra aliança com PSD de Kassab e paralisa a direção

Centenas de militantes do PT paulista, delegados ao Encontro de Macro-Regiões, desconsideram o PSD como aliado político e enfrentam proposta de incluí-lo no arco de alianças do PT. A política de colaboração de classes enfrenta reação. Leia relato do Encontro.




O Encontro das Macro-Regiões do PT de São Paulo reuniu cerca de mil delegados em Sumaré nos dias 18 e 19 de junho e foi antecedido por seminários nas 19 Macro-Regiões (instâncias intermediárias entre o Diretório Estadual e Diretórios Municipais existentes há vários anos no PT paulista), onde participaram cerca de 10 mil filiados.

O objetivo era discutir e aprovar um texto de conjuntura política e tratar da tática eleitoral do PT SP para 2012. Além disso, o Encontro poderia encaminhar emendas ao texto-base de Reforma Estatutária do PT que será aprovado posteriormente em um Congresso Nacional Extraordinário.
Após a abertura dos trabalhos, com discursos de Lula e José Dirceu, os militantes se reuniram em três grandes grupos (Capital, Interior e Litoral), onde foram apresentadas e discutidas emendas.
A chapa Virar à Esquerda Reatar com o Socialismo, impulsionada pela Esquerda Marxista apresentou algumas emendas, com três propostas principais:
- A primeira no sentido de suprimir do texto-base toda alusão à divisão do povo trabalhador brasileiro em “raças/etnias” ou por gênero, buscando ressaltar o caráter de classe das políticas do partido e a unidade entre todos os trabalhadores - seja de pele negra ou branca, seja masculino ou feminino – para lutar contra os exploradores e pelo socialismo.
- A segunda reivindicava o fim do financiamento de bancos e grandes empresas para as campanhas eleitorais do PT, posicionava-se contra a proposta de financiamento público para as eleições e pela retomada da arrecadação militante como forma de sustentar as candidaturas do partido de maneira independente da burguesia e seu Estado.
- A terceira questionava a atual política de alianças com setores da burguesia e defendia uma política de alianças com os movimentos sociais, ou seja, com a CUT, MST, UNE, sindicatos, entidades e organizações de defesa da classe trabalhadora. Por isso, propunha a exclusão não só do PSDB, DEM e PPS do “arco de alianças”, mas também dos demais partidos burgueses, como o PMDB, PSD e outros.
Durante toda a atividade também, os marxistas mantiveram uma banca da Livraria Marxista e coletaram assinaturas de delegados para a aprovação de uma moção em apoio aos trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô (que foi incorporada pela Mesa e aprovada pelo plenário final dos trabalhos).
Apresentamos também várias emendas que foram incorporadas ao texto base, a saber, uma emenda que propôs orientar os Diretórios, Estadual e Municipal, a se engajarem na mobilização dia 6 de julho convocado pela CUT; duas emendas que propunham reforçar a aliança do PT nas eleições com os movimentos sociais, sindicatos, CUT e MST.

Resistência na base pela independência política

No sábado pela manhã, os trabalhos se iniciaram com discurso do ex presidente Lula. Em seu discurso Lula destacou os números obtidos em seu governo e as metas do governo Dilma. Lula também defendeu a política de alianças e deu um “puxão de orelha” na suposta divisão da bancada de deputados do PT em relação à defesa do governo Dilma. Depois Zé Dirceu fez um discurso na mesma linha, parecia um comício com tudo sob controle da direção.
Após a abertura foram realizados os trabalhos de grupo. De volta ao plenário um pequeno detalhe destravou um debate acirrado no interior do partido. Uma emenda propunha excluir o PSD - partido impulsionado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM) - do arco de alianças do PT-SP nas eleições de 2012.
A Mesa, dirigida por João Antônio (da Comissão Executiva PT-SP) e por Edinho Silva (presidente do PT SP) sugeriu não acatar a proposta. Imediatamente, o plenário reagiu e os dirigentes do partido foram pegos de surpresa. O vereador da capital paulista Chico Macena defendeu a exclusão do PSD da lista dos “aliados” e o plenário reagindo positivamente começou a gritar: “PSD, fora”! “PSD, fora”! Vicente Candido, deputado estadual do PT, defendeu a manutenção do PSD como aliado. Foi vaiado.
O presidente do PT, Edinho e o Ministro Padilha que estava na mesa ficaram apavorados, não estavam preparados para sofrerem uma derrota no plenário e iniciaram procedimentos para reverter a situação, alguns aplausos vieram do plenário, mas a fala de Edinho também foi interrompida por vaias.
Em pânico, a Mesa quis evitar a votação, sugerindo uma nova rodada de defesas. Mais uma vez, o plenário reagiu aos gritos de: “vota, vota, vota”! O ministro da Saúde, Alexandre Padilha e Edinho Silva conversam ao pé de ouvido, enquanto João Antônio pedia calma ao plenário.
O microfone foi aberto novamente para as defesas. A vereadora Juliana Cardoso, também da capital paulista, defendeu emocionada a exclusão do PSD do arco de alianças, pedindo para que todos olhassem bem quem estava aderindo ao PSD, como vários coronéis da Polícia Militar, antigos agentes do DOPES que torturaram militantes socialistas em nome da Ditadura Militar, fazendo um apelo para que os delegados votassem com o coração.
Edinho Silva afirmou que o PT-SP deveria seguir a política de alianças do Planalto, pois o PSD estaria em vias de apoiar o governo Dilma no Congresso Nacional. Por isso, Kassab poderia ser um aliado importante do PT para as eleições na capital paulista e, portanto, a exclusão do PSD seria prematura.
Seguiu-se a votação e, por contraste, a Mesa afirmou que não conseguia definir qual proposta havia vencido. Isso gerou novos e justos protestos dos que queriam o PSD fora. Outra votação foi feita, desta vez, por contagem. Após contarem os crachás dos que se posicionavam contra a exclusão do PSD, a Mesa sugeriu interromper a votação, evidentemente, com medo de que a posição pela exclusão do PSD saísse vitoriosa.
Os protestos viraram indignação contra as constantes manobras da Mesa. As palavras-de-ordem contra o PSD, contra a Mesa que dirigia os trabalhos e de “Partido, Partido é dos Trabalhadores” ecoaram forte pelo plenário.
Por fim, a Mesa sugeriu nova votação. Desta vez, os delegados deveriam entregar os crachás para a Mesa proceder a contagem. Os favoráveis à aliança com o PSD entregaram seus crachás e, logo em seguida, a Mesa chamou os contrários para entregarem os seus crachás, isso, sem antes proceder a contagem e o descarte dos votos que estavam em cima da mesa, a favor do PSD. Choveram mais protestos contra a manobra.
Mesmo assim, a Mesa insistiu e manteve a votação. Os delegados que queriam o “PSD fora” foram entregando seus crachás, chamando os demais a fazerem o mesmo, ao som de: “vem, vem, vem pra luta, vem”!
No palco, muitos estavam em volta dos crachás para fiscalizar a contagem e, após vários minutos, a Mesa afirmou que havia dado empate e que, portanto, a decisão sobre a exclusão ou não do PSD do arco de alianças do PT-SP estava adiada, “para preservar a unidade do partido”, nas palavras de Edinho Silva, com acordo de Macena.
O resultado foi percebido pelos delegados como fruto das manobras burocráticas, mas, de qualquer forma, a direção partidária pode sentir a pressão e o peso da base de militantes. As alianças com os inimigos históricos da classe trabalhadora não passarão impunemente goela a baixo dos milhares de petistas espalhados por este país.
Em seu discurso inicial, Lula havia defendido a atual política de alianças do PT dizendo que “é preciso juntar os diferentes para lutar contra os antagônicos”. Já José Dirceu afirmou que “a política de alianças (do governo Dilma) é positiva porque expressa um conjunto de interesses da sociedade”.
No entanto, é preciso definir um critério para determinar quem são os diferentes, quem são os antagônicos e quais interesses servem aos trabalhadores.
Nós não somos contra o PT fazer alianças eleitorais porque, apesar de ser o maior partido da classe trabalhadora brasileira, não é o único que existe. Portanto apesar das diferenças que temos com os outros partidos que dizem falar em nome da classe trabalhadora, somos a favor da unidade na ação com eles, e coligações sob a base do programa de ruptura com imperialismo e aplicação do programa de atendimento das reivindicações dos trabalhadores, contra a burguesia, latifundiários, banqueiros e imperialistas. Não nos coligamos com nenhum partido burguês e nem compomos governos com eles.
Mais do que isso, um programa de luta pelo socialismo só se realiza na prática com a intervenção consciente dos trabalhadores na luta de classes, por isso, as alianças que interessam são com a CUT e o MST. Nenhum governo imperialista será a favor da retomada do patrimônio público privatizado. Nenhum patrão será a favor da redução da jornada de trabalho e de um aumento geral dos salários. Nenhum latifundiário será a favor dos Sem Terras e da reforma agrária. Nenhuma empresa do agronegócio será a favor do meio ambiente.
A direção do PT vai sempre enfrentar resistência da base dos militantes quando quiser pintar de aliado alguém que seja contrário aos interesses dos trabalhadores, isso é a demonstração de que no PT a maioria na base ainda se referencia na luta pelo socialismo.
Saudamos a resistência dos militantes do PT paulista e de milhares de filiados pelo Brasil a essa política que desfigura o PT como um partido socialista e democrático. Estamos na luta para que a base militante tenha sempre um papel protagonista não só nos momentos eleitorais, mas em todas as decisões partidárias: por um governo socialista dos trabalhadores.
Este episódio demonstra que: a cada dia que passa aumenta o desconforto na base frente à manutenção das alianças; que existe no interior do partido a brasa da independência de classe e da luta pelo socialismo e, quando ela é alimentada, pode facilmente incendiar e ameaçar a política de conciliação de classes da maioria da direção do PT.
Essa discussão e esse embate não terminaram neste encontro. A elevação da temperatura está apenas em seu começo e muitas batalhas virão soprar novos e bons ventos da luta de classes na defesa das bandeiras históricas do PT.
Estamos na luta para unir todos os petistas que se mantêm fiéis à luta da classe trabalhadora pelo socialismo. Nesse combate os petistas sabem que podem contar com a Esquerda Marxista.


Rafael Prata é Membro Diretório PT Campinas

José Carlos Miranda é Vice Presidente PT Caieiras

5 comentários:

  1. Excelente relato, companheiros.
    É uma importante reafirmação da política da Esquerda Marxista de lutar para que o PT rompa com os partidos do capital e governo com o movimento operário.
    É mais do que hora de VIRAR A ESQUERDA E REATAR COM O SOCIALISMO.

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  2. Alguns companheiros estavam equivocados em torno da votação. Se a votação contra a retirada do PSD fosse aprovada não seria legitimada porque no proprio texto diz "aliança com partidos de oposição ao PT historicos" mais do PSD não é historico porque ainda não existe o que temos são pessoas historicas de oposição

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  3. Shitão, o fato do PSD existir oficialmente ou não, não muda o significado da polarização ocorrida no Enc das Macros e a vontade expressa de vários militantes contra mais essa aliança com setores burgueses.

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  4. Companheiros petistas!

    Sou de São Bernardo, da Juventude e da Luta Revolucionária pelo socialismo. Apoio este texto explicativo do que houve do Encontro das Macros do PT-SP. Acredito que é necessário na reforma estatutária reafirmar os valores e a doutrina socialista, aprofundando as relações culturais do PT com a tradição de lutas do socialismo tanto o socialismo brasileiro, quanto o socialismo mundial.

    Como estou na Juventude, e como houve a integração política entre a juventude petista e a liga da juventude do partido comunista chinês, precisamos transformar nosso partido, de partido eleitoreiro e com (des)alianças frágeis com o PMDB, PSD (que raios é isso???) e tudo mais para com os partidos de esquerda, mesmo o PPS que estão num processo de reestruturação também, para compormos um pólo revolucionário socialista.

    Meu apoio de Fernando Gaebler, para com a causa revolucionária, socialista da classe dos trabalhadores.

    Viva o PT!

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  5. O que ocorreu no encontro das Macrorregiões "é a ponta do iceberg" da contradição entre a base petista e a direção. O que estamos vendo no PT Campinas é a mesma coisa. Começa com PSD, com PDT, mas caminhará para entender que o PT tem que estar junto aos movimentos sociais, junto à classe trabalhadora, pois somente assim, construiremos o socialismo!

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