Wanderci Bueno
Reproduzimos
abaixo o texto de Juliana Araujo que divulga a carta dos bailarinos contra os
ataques que estão sofrendo e protesta contra o ataque que o prefeito Jorge
Roberto Silveira lançou contra a Companhia alegando que esta não dava aulas
para as crianças pobres. O prefeito criou outro corpo de balett e após os
artistas da antiga Cia protestarem começaram a receber comunicação de suas
demissões.
Nossa solidariedade à luta! Nenhuma demissão!
Quando a
arte e a política se encontram – A extinção da Companhia de Ballet da Cidade
de Niterói
“O artista deve ter em mente que faz parte da
vida de seu país e que a ele cabe dar exemplos que motivem as novas vocações”
(Ana Botafogo)
Juliana Araújo
Como de costume, cheguei em casa do trabalho e liguei o meu
computador para ler as novidades do dia. Tinha em mente escrever um novo post
para o meu blog, provavelmente sobre as produções do Quebra-Nozes pelo mundo,
já que o Natal se aproxima.
Ao invés disso, tomei conhecimento
da extinção da Companhia de Ballet da Cidade de Niterói por parte da Prefeitura
daquela Cidade.
Juntamente com a notícia, recebi de um dos bailarinos da Companhia, o texto
abaixo, o qual não pude deixar de compartilhar pelo fato ser cidadã brasileira
e amante da dança que sou.
“Nós, bailarinos da Companhia de
Ballet a Cidade de Niterói sentimos a necessidade de tornar pública toda a
retaliação e injustiça que vem sido arbitrada desde o dia 13 de novembro na
Praia de Icaraí, quando logo após cumprirmos a nossa função e
brindarmos o público com um espetáculo sensível e de qualidade, expressamos
através da leitura de uma nota e a extensão de uma faixa no palco, a situação
pela qual atravessávamos. O público aplaudiu e demonstrou sua solidariedade e
apoio.
Três dias depois fomos surpreendidos
com a atitude do prefeito que demitiu a direção da Companhia e indicou férias
coletivas para todos os bailarinos. No dia 18 de novembro foi publicado no
jornal O Fluminense que o prefeito vai a pedir destombamento da Companhia como
patrimônio imaterial e solicitar a criação de um novo grupo.
Esta atitude confirma mais uma vez o
caráter autoritário e desrespeitoso desta prefeitura. Nós, trabalhadores da
dança, temos o direito de nos expressarmos como qualquer cidadão e como
funcionários públicos que cumprimos eficientemente com nosso trabalho.
Entretanto, infelizmente, o prefeito não reconhece o trabalho de vinte anos da
Companhia que tantos louros ofereceram a prefeitura de Niterói, divulgando o
nome da cidade por todo o país e transmitindo arte, e joga no lixo a história e
o prestígio de uma Companhia que é orgulho de nossa cidade.
Esclarecemos também que
diferentemente ao que o prefeito afirmou no jornal, sempre cumprimos com as
obrigações e solicitações da instituição, fazendo projetos escola em nossos
espetáculos e, por iniciativa da direção da Companhia e dos bailarinos,
construímos o projeto “Natal com Arte” para instituições de auxilio a crianças
carentes e idosos. Além disto, jamais nos opusemos à importância na formação do
ensino da dança em Niterói de maneira legitima e gratuita, apenas não podemos
concordar com a extinção do órgão que trará para estes estudantes a
possibilidade de ingressar no mercado de trabalho; o objeto final de uma
Companhia de ballet é o espetáculo de dança e para formar profissionais para
estes espetáculos existem as escolas de danças.
O prestigio do nosso diretor e do
conjunto da companhia não pode ser desvirtuado pelos caprichos de um governante
que renega o diálogo, escolhe o autoritarismo e despreza o capital cultural de
nossa cidade.
Bailarinos da Companhia de Ballet da
Cidade de Niterói”
Indignada e sensibilizada com a
notícia, fui investigar um pouco mais sobre o assunto. Segundo o Jornal
Carioca O Globo, a decisão de extinguir a Companhia teria advindo de
reinvidicações de funcionários e bailarinos por melhores salários e mais
valorização da classe por parte das autoridades municipais. Segundo o Jornal, o
Grupo teria tomado conhecimento da extinção da Companhia na última quinta-feira
através de uma nota oficial assinada pelo Prefeito da Cidade, Jorge Roberto
Silveira. Já o Jornal O Fluminense publicou uma nota afirmando que o Prefeito teria
justificado a sua decisão ao afirmar que o Grupo teria perdido o seu caráter
social, já que não se dispunha a dar aulas para crianças carentes; e que em
consequência disso, iria requerer o “destombamento da companhia como Patrimônio
Imaterial”, a demissão do Diretor da Companhia e impor férias coletivas
aos bailarinos.
Desde que tomaram ciência de tais medidas, os bailarinos têm
se mobilizado para que o ato de extinção não se concretize. Manifestações
têm ocorrido em vários locais da Cidade tais como a Praia de Icaraí e a Câmara
de Vereadores.
Segundo o Jornal O Globo, o Prefeito Jose Roberto Silveira
afirmou que inicialmente teria sido motivado a criar a Companhia em 1992 pelas
seguintes razões:
“o reconhecimento, por parte do
poder público, da vocação de Niterói para a dança; a necessidade de ter
um instrumento capaz de contribuir no processo de autoestima da cidade; e,
talvez o mais importante, ter um balé cujos integrantes pudessem também dar
aulas de dança nas áreas carentes.”
E ainda acrescentou:
“… o suporte exclusivo ao balé, por
sua vez, já não atende à realidade de Niterói, onde vários grupos de dança
foram criados nessas quase duas décadas e são tão merecedores do apoio da
prefeitura quanto este”.
Pelo que consta, a decisão de acabar com a Companhia tem
gerado grandes transtornos na vida do povo niteroiense como cancelamento de
espetáculos, imposição de férias coletivas a funcionários, demissões e
prejuízos financeiros ao contribuinte fluminense. Sem querer me deter às
penalidades impostas a violações de direitos trabalhistas e constitucionais, a
meu ver, tais argumentos são completamente infundados pelos seguintes motivos:
Bem, se ao criar a Companhia o Sr
Prefeito tinha em mente a necessidade de ter um instrumento capaz de contribuir
no processo de autoestima da cidade, o Ballet da Cidade de Niterói sempre
cumpriu ainda cumpre este papel. Desde que a Companhia foi criada, ela só tem
sido motivo de orgulho para a Cidade e para oBrasil como um todo. Seguindo a linha contemporânea, o Ballet
tem presenteado o grande público com espetáculos coreografados por grandes
nomes da dança brasileira tais como: Renato Vieira, Rodrigo Néri, Rodrigo
Pederneiras, Henrique Rodovalho, Luiz Fernando Bongiovanni, entre outros.
Sempre aclamadas pela crítica as obras sempre refletiram o espírito artístico e
criativo do povo brasileiro; entre as quais eu gostaria de citar: Choros e
Valsas – Tributo a Pixinguinha, Enquanto Dure o Caixa de Cores.
Ainda mais descabida é a afirmação
de que “o suporte exclusivo ao balé já não atende mais às necessidades do de
Niterói”. No caso presente, não se trata de suporte exclusivo ao ballet, mas de
apoio à arte em geral e o reconhecimento do seu valor renovador de inserção
social. Ao invés de tentar desativar a Companhia, o Sr Prefeito deveria buscar
mecanismos capazes de expandi-la, no sentido de se criar estratégias para maior
captação de recursos e aumento dos índices de emprego. Atualmente, as maiores
companhias de ballet do mundo têm procurado expandir seus repertórios incluíndo
estilos de dança que não sejam apenas o ballet clássico, mas também o
neo-clássico, o moderno e o contemporâneo. Outras iniciativas incluem maiores
esforços de se popularizar o ballet. Por exemplo: este ano o Royal Ballet de
Londres exibiu vários ballets de graça em telão em plena Trafalgar Square. Além disso, promoveu exibições de seus repertórios em
várias salas de cinema da Cidade, sem falar na mega produção de Romeu e Julieta apresentada no espaço O2 Arena durante o mês de junho.
Já o English National Ballet tem utilizado outros mecanismos para manter os níveis
de emprego dentro da Companhia tais como: oferta de aulas de ballet clássico
para adultos, festas de caridade, eventos de moda, palestras realizadas pelos
bailarinos, além do sistema “Friends of the ENB”, o qual possibilita ao filiado acesso a ensaios e
masterclasses e aos bastidores do mundo do ballet.
O Fórum Nacional de Dança e o
Mobilização Dança (SP) e outras entidades de apoio têm exercido um papel
fundamental na fomentação e pesquisa da dança no Brasil. Além disso, há vários
projetos sociais que têm contribuído para a expansão da arte no Brasil, tais
como o Dançando para Não Dançar e o projeto Balé Jovem de São Vicente. A Escola do Teatro Bolshoi do Brasil que têm exportado bailarinos talentosos para o
exterior devido à falta de uma estrutura político-econômica capaz de mantê-los
aí.
Nesse sentido, é crucial que reconheçamos que posturas políticas
desarticuladas e autoritárias que tenham como base a falta de legitimidade e
conhecimento do assunto podem gerar efeitos desastrosos não apenas economia de
um país, mas também na cultura de um povo.
Como exemplo de cidadania, eu convido o Sr Prefeito Jorge
Roberto Silveira a rever seus conceitos e reverter a decisão de extinguir a
Companhia de Ballet de Niterói. Peço também aos brasileiros, que por amor à
arte e à dança, que se solidarizem aos membros da Companhia no
sentido de que juntos possamos criar melhores condições de trabalho para os
nossos bailarinos e consequentemente construirmos um Brasil melhor.
Para finalizar, gostaria de
acrescentar que mais uma manifestação está sendo organizada para amanhã às 11h00min
horas no Campo de São Bento em
Niterói. Eu pediria aos interessados que entrem em contato com os membros da
Companhia para obterem maiores informações sobre o evento.
Vamos lá minha gente! A união faz a força!
Wanderci, obrigada por publicar meu texto. De minha parte continuarei divulgando a noticia, este disparate. Alguem ja escreveu a Presidente Dilma?
ResponderExcluirObrigada mais uma vez,
Juliana