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7 de maio de 2012

Dilma e a CPI

Luiz Bicalho

Charge de Pelicano


Enquanto aguardavam o Presidente dos EUA na Venezuela, onze agentes do Serviço Secreto dos EUA (órgão responsável pela segurança presidencial) resolveram fazer uma festa: contrataram várias prostitutas, ao preço de 60 dólares cada uma, para uma pequena farra no hotel onde estavam. Um dos agentes, mais animado, resolveu passar a noite com uma das moças. E esta, de manhã, cobrou um pouco mais caro: 170 dólares. O agente resolveu não pagar, criou-se o barraco e a linda história correu o mundo.


Dinheiro. É disso que se trata. As quantias que vêm a público são muito pequenas: 5.000 reais depositados na conta um, 20 mil que corre na conta de outro, pagamentos mensais, etc. No meio de tudo isso um misto de bicheiro e empresário, ou, como qualificou um deputado muito à vontade no papel de dizer que o dito empresário era seu amigo, um empresário de loterias. 

Tudo certo, se não fosse o caso de que o ramo de loterias é reservado somente à exploração estatal e o tal do jogo do bicho ser proibido. Tudo certo como 2 e 2 são quatro, porque como explicou o presidente da Delta Engenharia, uma das maiores operadoras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), todo político se desmancha fácil quando enxerga 20 ou 30 milhões que pode ter de lucro (aqui, nesta conversa “informal”, os valores foram multiplicados por mil). Sim, tudo certo, porque neste jogo tudo tem que ser cobrado e quando alguém não paga a conta ou não entrega o prometido, encontra-se tal qual o agente de segurança do Presidente dos EUA: o barraco é criado e pelo menos uma parte da verdade fica exposta a céu aberto e a população estarrecida ouve e lê como são feitos os negócios no estado burguês.

E os barracos, em pleno ano eleitoral, onde promessas e acordos são feitos e desfeitos com a velocidade de um raio, os raios em céu azul parecem acontecer a cada dia, com lobo querendo comer lobo e todos se colocaram de acordo em uma só questão: “vamos investigar a fundo”. Sim, e para que não restem dúvidas sobre até onde se vai ao investigar a fundo, José Serra declara que “bota a mão no fogo pelo Perilo” (governador de Goiás, figura carimbada do escândalo e frequentador das cachoeiras do Centro-Oeste) e José Dirceu vem a público esclarecer que as denuncias relacionadas ao governador do DF são “mentirosas”.

Aliás, Agnelo, governador do DF, deu a senha: meus contatos com estes senhores foram republicanos. Sim, Dr. Agnelo (ele é médico), nós acreditamos. O único problema é que a República de hoje, a “nova” república construída depois da derrubada da ditadura e alicerçada na Constituição de 1988, parece ser animada e organizada em torno dos escândalos que ficaram famosos na “Velha República” (período da história do Brasil que vai da Proclamação da República, 1889, até o golpe de Varga, 1930). Ou seja, os contatos republicanos entre todos os personagens levam, com uma frequência bastante alta, a que os empresários ganhem contratos e facilidades e os “políticos” ganhem financiamentos eleitorais, casas, contas no exterior, apartamentos, etc.

E o povo estarrecido, que vive e sobrevive do seu salário, o aposentado que não tem reajuste acima do mínimo porque isso vai criar “déficit”, o trabalhador que houve que ano que vem o salário mínimo não vai crescer tanto porque este ano foi excepcional, os trabalhadores que lutam e penam para pagar o seu carrinho, o seu apartamento e às vezes simplesmente para botar comida na mesa, enxergam atônitos que os políticos, todos, estão fazendo contatos “republicanos” nos quais saem com casas, apartamentos, fazendas, caronas em jatinhos, contas no exterior. E os trabalhadores? Coitados deles.

Sim, nós enxergamos: reunião após reunião, os empresários pedem facilidades, pedem e levam bilhões em “desonerações tributárias”, pedem e levam bilhões em contratos com o governo, enquanto o aposentado não pode ter um mísero 5% de reajuste. 

E o PT? Enquanto as figuras públicas do PT, enquanto seus dirigentes continuam na linha de  “coalizão” com os partidos burgueses, o resultado é simples: políticas que favorecem os empresários, deputados, prefeitos e governadores do partido cada vez mais frequentadores deste círculo de escândalos da “nova-velha” república. Todos republicanos. E o nojo que os trabalhadores sentem não para de crescer.

A Esquerda Marxista tem a sua posição: todos estes senhores que fazem parte destas negociatas devem ser defenestrados do partido. Mas, o primeiro passo para isso é justamente romper as alianças que levaram o partido para companhias tão “dignas” quanto as de José Sarney e Collor de Melo. Alias, cúmulo da ironia, uma das figuras indicadas para a CPI e que promete um comportamento digno é Collor de Melo. Realmente, os escândalos vão ser expostos, mas dificilmente esta CPI levará a qualquer condenação. Afinal, o homem que foi jogado pra fora da Presidência pelo clamor popular e que depois conseguiu ser inocentado pelo Supremo Tribunal Federal deve entender mesmo destes negócios.

E a presidente Dilma para acalmar toda essa gente promete liberar mais e mais recursos aos parlamentares picaretas como se estivesse querendo antecipadamente proteger alguma coisa ou alguém. 

A base aliada e a oposição empenhoradamente agradecem, como se estivessem a se livrar de algo muito terrível. Dilma suspira por estar pagando a fatura aos Collors e Sarneys, ajudando a todos com extrema solicitude, consciente do preço que os coligados burgueses lhe impõem e ainda imporão nessa farra. Resignada aceita, sem resistência, ser refém de seus aliados burgueses. Paga o preço e ponto final!

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