O texto, do qual publicamos seu inicio
abaixo, foi publicado em 2009 por ocasião das comemorações dos 35
anos da Revolução em Portugal. Escrito por Ted Grant em 1975 mantém toda sua atualidade. A sua íntegra pode ser lida aqui
![]() |
Maio de 1974 em Portugal |
Ted Grant
Depois de aproximadamente um quarto de
século de ditadura fascista, a revolução em Portugal abriu uma nova etapa da
revolução europeia e mundial. Tendo sido iniciada como um pronunciamento ou
golpe militar, demonstrou que existem reservas inesgotáveis de força e
resistência nas fileiras da classe trabalhadora, devido ao seu papel na
sociedade.
A despeito do controle do rádio,
televisão, imprensa, igreja e escolas, o sistema totalitário desmoronou. A
corrupção e a opressão afetaram o regime debilitando-o e solapando-o. Devido à
posição do proletariado na sociedade, seu trabalho coletivo nas fábricas e
indústrias, sua luta coletiva contra os patrões, é-lhe quase inata a ideia de
organização, de luta e de uma organização diferente da sociedade. Depois de
mais de duas gerações de domínio dos burocratas stalinistas, podemos estar
seguros de que, na Rússia, os primeiros grandes acontecimentos despertarão os
trabalhadores russos e que estes recuperarão suas grandes tradições. Eles
empurrarão com seus ombros a casta burocrática parasitária, tão facilmente
quanto as massas portuguesas entraram em ação com a queda de Caetano.
As massas húngaras já tinham
demonstrado com sua revolução política o vazio e a ficção do poder dos
burocratas, assim que as massas entram em ação. Quando as massas entraram em
ação, as burocracias da Rússia e dos outros estados proletários bonapartistas
revelaram sua patética incapacidade e insuficiência. Seu poder, como o da
classe capitalista, depende da inércia dos trabalhadores e dos camponeses.
O medo que o imperialismo americano e
a burocracia russa têm do movimento de massas, que ameaça minar completamente o
‘status quo’, não é a última consideração nas tentativas de distensão entre as
duas potências.
Como aconteceu aos EUA no Vietnam, a
interminável guerra colonial na África minou o exército de Portugal. Quinze
anos de luta contra o movimento da implacável guerrilha camponesa em
Moçambique, Angola e Guiné retiraram do regime suas últimas reservas de apoio.
A frágil economia de Portugal não
podia sustentar a drenagem dos recursos. A pequena burguesia e o proletariado
estavam sobrecarregados. Apenas as “Sete Famílias”, os bancos e o capital
monopolista se beneficiaram da sangrenta desordem.
Devido à guerra interminável, ninguém
se entusiasmava com a possibilidade de obter responsabilidades militares nas
forças armadas e, em consequência, um grande número dos suboficiais era formado
por estudantes uniformizados.
A mesma vaga de radicalismo que se
tinha estendido entre os estudantes de todos os países, também se tornou
evidente na Espanha e em Portugal durante o último período. Eles levaram este
radicalismo quando vestiram o uniforme.
No momento do golpe de 25 de abril de
1974, o único setor do aparato do estado em que o regime podia confiar era a
polícia secreta, vinculada ao regime pelo medo, devido aos seus sangrentos
crimes contra o povo.
As condições assinaladas por Lenin e
Trotsky para o desenvolvimento da revolução tinham chegado nos meses anteriores
ao colapso do regime: greves massivas do proletariado, apesar de sua
ilegalidade, particularmente em Lisboa; descontentamento dos camponeses e da
pequena burguesia; agitações entre os estudantes e a tentativa da classe
dominante para se salvar através de “reformas” insignificantes que agravavam
ainda mais a situação.
Todas as condições para uma explosão
estavam amadurecendo. Mas a peculiaridade da revolução portuguesa, o que indica
a maturidade e inclusive excesso de maturidade do capitalismo para a revolução
– revelando-se em primeiro lugar em seus elos mais fracos – foi que, em suas
primeiras etapas, esteve dirigida por oficiais de baixo e médio escalão e, o
que é mais significativo, em todos os setores das forças armadas: exército, mar
e ar.
É verdade que na Península Ibérica há
uma tradição de golpes de estado realizados em diversos momentos e por diversos
setores das forças armadas, republicanos ou monarquistas reacionários. Mas uma
das diferenças agora é que, sob a pressão das contradições engendradas por duas
gerações de fascismo e da guerra colonial impossível de ganhar, a maior parte
dos oficiais estava contra o regime.
De fato, o descontentamento explosivo
e a ansiedade de encontrar uma saída – evidenciando a divisão na frágil classe
dominante – refletiam-se no livro de Spínola que defendia uma forma peculiar de
federação lusitana com as colônias, na verdade, uma nova configuração da
situação, mas com o controle firmemente nas mãos dos portugueses. A recusa em
fazer a menor concessão, sequer a remoção de Spínola e Gomes de seus postos, e
a cega obstinação do regime ajudaram a precipitar a conspiração através da
formação do MFA (Movimento das Forças Armadas).
Nenhum comentário:
Postar um comentário