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26 de abril de 2012

A Revolução dos Cravos


O texto, do qual publicamos seu inicio abaixo, foi publicado em 2009 por ocasião das comemorações dos 35 anos da Revolução em Portugal. Escrito por Ted Grant em 1975 mantém toda sua atualidade. A sua íntegra pode ser lida aqui

Maio de 1974 em Portugal

Ted Grant

Depois de aproximadamente um quarto de século de ditadura fascista, a revolução em Portugal abriu uma nova etapa da revolução europeia e mundial. Tendo sido iniciada como um pronunciamento ou golpe militar, demonstrou que existem reservas inesgotáveis de força e resistência nas fileiras da classe trabalhadora, devido ao seu papel na sociedade.


A despeito do controle do rádio, televisão, imprensa, igreja e escolas, o sistema totalitário desmoronou. A corrupção e a opressão afetaram o regime debilitando-o e solapando-o. Devido à posição do proletariado na sociedade, seu trabalho coletivo nas fábricas e indústrias, sua luta coletiva contra os patrões, é-lhe quase inata a ideia de organização, de luta e de uma organização diferente da sociedade. Depois de mais de duas gerações de domínio dos burocratas stalinistas, podemos estar seguros de que, na Rússia, os primeiros grandes acontecimentos despertarão os trabalhadores russos e que estes recuperarão suas grandes tradições. Eles empurrarão com seus ombros a casta burocrática parasitária, tão facilmente quanto as massas portuguesas entraram em ação com a queda de Caetano.

As massas húngaras já tinham demonstrado com sua revolução política o vazio e a ficção do poder dos burocratas, assim que as massas entram em ação. Quando as massas entraram em ação, as burocracias da Rússia e dos outros estados proletários bonapartistas revelaram sua patética incapacidade e insuficiência. Seu poder, como o da classe capitalista, depende da inércia dos trabalhadores e dos camponeses.

O medo que o imperialismo americano e a burocracia russa têm do movimento de massas, que ameaça minar completamente o ‘status quo’, não é a última consideração nas tentativas de distensão entre as duas potências.

Como aconteceu aos EUA no Vietnam, a interminável guerra colonial na África minou o exército de Portugal. Quinze anos de luta contra o movimento da implacável guerrilha camponesa em Moçambique, Angola e Guiné retiraram do regime suas últimas reservas de apoio.

A frágil economia de Portugal não podia sustentar a drenagem dos recursos. A pequena burguesia e o proletariado estavam sobrecarregados. Apenas as “Sete Famílias”, os bancos e o capital monopolista se beneficiaram da sangrenta desordem.

Devido à guerra interminável, ninguém se entusiasmava com a possibilidade de obter responsabilidades militares nas forças armadas e, em consequência, um grande número dos suboficiais era formado por estudantes uniformizados.

A mesma vaga de radicalismo que se tinha estendido entre os estudantes de todos os países, também se tornou evidente na Espanha e em Portugal durante o último período. Eles levaram este radicalismo quando vestiram o uniforme.

No momento do golpe de 25 de abril de 1974, o único setor do aparato do estado em que o regime podia confiar era a polícia secreta, vinculada ao regime pelo medo, devido aos seus sangrentos crimes contra o povo.

As condições assinaladas por Lenin e Trotsky para o desenvolvimento da revolução tinham chegado nos meses anteriores ao colapso do regime: greves massivas do proletariado, apesar de sua ilegalidade, particularmente em Lisboa; descontentamento dos camponeses e da pequena burguesia; agitações entre os estudantes e a tentativa da classe dominante para se salvar através de “reformas” insignificantes que agravavam ainda mais a situação.

Todas as condições para uma explosão estavam amadurecendo. Mas a peculiaridade da revolução portuguesa, o que indica a maturidade e inclusive excesso de maturidade do capitalismo para a revolução – revelando-se em primeiro lugar em seus elos mais fracos – foi que, em suas primeiras etapas, esteve dirigida por oficiais de baixo e médio escalão e, o que é mais significativo, em todos os setores das forças armadas: exército, mar e ar.

É verdade que na Península Ibérica há uma tradição de golpes de estado realizados em diversos momentos e por diversos setores das forças armadas, republicanos ou monarquistas reacionários. Mas uma das diferenças agora é que, sob a pressão das contradições engendradas por duas gerações de fascismo e da guerra colonial impossível de ganhar, a maior parte dos oficiais estava contra o regime.

De fato, o descontentamento explosivo e a ansiedade de encontrar uma saída – evidenciando a divisão na frágil classe dominante – refletiam-se no livro de Spínola que defendia uma forma peculiar de federação lusitana com as colônias, na verdade, uma nova configuração da situação, mas com o controle firmemente nas mãos dos portugueses. A recusa em fazer a menor concessão, sequer a remoção de Spínola e Gomes de seus postos, e a cega obstinação do regime ajudaram a precipitar a conspiração através da formação do MFA (Movimento das Forças Armadas).

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