Fabiano
Leite
Um só termo limpo, seco, frio e
inodoro, e pode ser pronunciado como uma chicotada: Austeridade Fiscal! Os
economistas que tentam cuidar da saúde do sistema capitalista, ao receitá-la,
pronunciam o seu nome em tom de contrição quase semelhante ao das sibilas
silvando seus sortilégios e maldições. O negócio é o seguinte: a ditadura do
capital agora se exerce unicamente através da Austeridade Fiscal, esta entidade
mágica santificada teoricamente por seus pontífices ideológicos. Pelo menos,
podemos nos despedir do keynesianismo, esta “simpática” expressão da
contrarrevolução capitalista: Adeus, Keynes! Até nunca mais!
Embora a receita da austeridade
fiscal não seja nova, pois já foi aplicada em todas as crises cíclicas do
capitalismo, é nova a envergadura da enfermidade que ela tem de enfrentar. Na
escala da História, esta nova envergadura do problema a ser enfrentado pelo
santo remédio da Austeridade Fiscal, que era antes apenas mais uma panaceia do
arsenal dos economistas, pode ser resumida no fato de que agora a Austeridade
Fiscal é a única panaceia. Ou ela resolve, ou mais nada resolve! E isto tem sua
lógica limpa, seca, fria e inodora, do ponto de vista dos interesses da
burguesia. Esta não tem mais nada a fazer senão decretar a Austeridade Fiscal a
partir de agora. E, em perspectiva, de forma cada vez menos efetiva.
A Austeridade Fiscal coloca problemas
bem interessantes para a burguesia resolver. A economia vai resvalar ladeira
abaixo gradativamente até se transformar numa descida descontrolada. A cada
etapa da descida, antes que alcance o ponto crítico do descontrole, mais
Austeridade Fiscal será injetada no paciente, agravando o problema. Em algum
momento da descida, o paciente vai entrar em um território um tanto quanto intimidador,
o território da guerra social.
Investiguemos isto brevemente. “Quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro!”. Este
ditado popular cabe como uma luva para caracterizar a situação econômica e
político-social em que a burguesia se verá mergulhada em futuro não muito
distante. Além da classe trabalhadora, a principal vítima, e que está rilhando
os dentes de raiva, as classes médias vão começar a comer do pão que o diabo
amassou, para que o trigo mais puro e melhor refinado vá para a mesa dos
próprios burgueses. A burguesia sempre deu um jeito de manter algum tipo de
aliança com a pequena burguesia, que lhe serve como contrapeso e almofada
protetora em suas trocas de soco com o proletariado, atirando-lhe, em
pagamento, migalhas até o momento satisfatórias. Pela mais simples das lógicas,
numa crise tão severa quanto a atual, estas migalhas vão diminuir e piorar de
qualidade e, dessa forma, o contrapeso vai desequilibrar e a almofada vai ficar
cada vez mais sovada e mais fina no decorrer desta história.
O burguês grego pulando como um louco
nesta gangorra já é um claro sinal do que está por vir para o burguês espanhol,
português, irlandês, belga, italiano, francês, inglês, alemão... Não parece que
a almofada social na Grécia esteja desempenhando seu papel de amortecedor da
luta de classes. Pelo que consta, a pequena burguesia grega (as modernas
“classes médias” dos sociólogos burgueses) também já está de saco cheio com seu
burguês caseiro, e se junta, cada vez mais, ao movimento das massas
trabalhadoras e pobres da Grécia. Que sejam benvindas!
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