Rafael Prata
Se dependesse da vontade dos bancários e dos dirigentes sindicais cutistas que se mantêm fiéis à luta da classe trabalhadora, a greve arrancaria um reajuste salarial maior do que foi conquistado. Porém, se dependesse do governo Dilma e da direção do Banco do Brasil, a greve terminaria apenas com a reposição da inflação e com o corte dos dias paralisados. Vamos analisar melhor essa equação para iniciarmos um balanço acerca do movimento grevista.
Os bancários fizeram a maior greve dos últimos 20 anos, fechando mais de 9 mil agências e locais de trabalho durante 21 dias, em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal. Realizamos piquetes, atos e passeatas em várias cidades e nos solidarizamos com a greve dos trabalhadores dos Correios. Enfim, fizemos a nossa parte.
No início da campanha salarial deste ano, ao contrário dos anos anteriores em que os banqueiros recusavam as reivindicações dos trabalhadores e os bancos públicos se escondiam na mesa da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), aguardando o desfecho da greve, para só depois apresentarem cláusulas aditivas... Desta vez, foi o BB que deu a linha, recusando as propostas dos trabalhadores, antes mesmo das negociações começarem, via boletim interno! E afirmando que não haveria condições de conceder aumento real e outros “benefícios”.
O tiro saiu pela culatra, pois os bancários do BB e da Caixa aderiram em peso à greve, desde o início, como resposta a esse disparate.
Durante a greve, enquanto os bancos privados ameaçavam os trabalhadores e promoviam práticas anti-sindicais (como de costume, aliás), a mídia tratava de buscar reverter o apoio da população ao nosso movimento, com reportagens, artigos e opiniões de conteúdo hipócrita e reacionário, incitando o governo a descontar o salário dos trabalhadores em greve.
Os bancários resistiam e ampliavam a mobilização, mas se angustiavam com o que estava acontecendo com os companheiros dos Correios: corte dos dias parados, intransigência do governo Dilma e dissídio no TST que sacramentou a medida antidemocrática ao direito de greve aplicada pelo governo federal, impôs o arrocho salarial e ainda ordenou a reposição dos dias parados nos sábados, domingos e através de horas-extras não-remuneradas. Os trabalhadores dos Correios resistiram bravamente, mas foram vencidos pelo governo e pelo poder judiciário.
Dias depois, os bancos retomam as negociações com os bancários, após 17 dias de greve. Os trabalhadores estavam dispostos a resistir se viesse algum ataque ou se as conversas não avançassem. No entanto, a proposta - que foi aceita pela categoria nas assembléias – chegou em 9% de reajuste salarial (1,5% de aumento real), aumento do piso (entre 10% e 14%, dependendo do banco) e PLR maior do que em 2010.
Evidentemente, poderia ter sido melhor, tendo em vista os resultados bilionários no lucro dessas instituições financeiras e a força da greve, porém, o BB já tinha preparado o desconto dos dias parados de setembro na folha de outubro e teve que recuar, assim como teve que voltar atrás na sua afirmação inicial de que não iria conceder reajuste acima da inflação. A categoria bancária conseguiu manter um patamar de reajuste salarial – que está longe do que é possível e necessário – mas que escapa do arrocho sofrido pelos companheiros dos Correios e que ainda serve de referência e comparação com outras categorias.
No entanto, é preciso dizer abertamente, que a direção majoritária da CUT e da Contraf não estava preparada para enfrentar essa situação, esse combate com o governo Dilma, elas sentiram-se aliviadas quando a Fenaban concedeu o que concedeu, tanto que cantaram esse Contrato Coletivo de Trabalho 2011/2012 como vitorioso, quando, na verdade, deveríamos refletir por que não conseguimos avançar mais, se o lucro dos bancos foi, na média, 20% maior do que em 2010? Se nossa greve foi a mais forte dos últimos 20 anos? Por que não paramos os sistemas principais e centrais dos bancos, internet, sistemas online, etc? Por que nossa luta não se unificou na ação com a luta dos correios e professores?
Não conseguimos avançar mais porque o governo Dilma orientou o BB e a Caixa a endurecer contra o movimento sindical, para deleite dos bancos privados. Usou os companheiros dos Correios como boi-de-piranha de uma política contrária aos reajustes salariais - política que tende a se aprofundar nos próximos anos, devido ao desenrolar da crise capitalista mundial.
Não conseguimos avançar mais porque precisamos de uma direção sindical preparada para fazer essa discussão com a sociedade e preparada para esse enfrentamento com os patrões e o governo que, a cada vez, será mais duro.
O que a CUT deveria fazer era reunir as categorias que têm data-base na mesma época para uma mesma e única luta: elevando a consciência dos trabalhadores a partir de suas campanhas reivindicativas, explicando o combate central pela ruptura do governo Dilma com a burguesia, contra o capitalismo (que fomenta crises econômicas e desgraças sociais), por um governo socialista dos trabalhadores.
Esse é o chamado da Corrente Sindical Esquerda Marxista da CUT a todos os sindicalistas e ativistas sindicais, a todos os companheiros conscientes de que o futuro da humanidade passa pela ação independente e revolucionária dos trabalhadores na arena da luta de classes.
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